Publicado no Jornal da Tarde, 02/02/2005.
De Cajamar a Guararema
Em meados dos anos 80, a CUT criou o Instituto Cajamar (SP) para preparar quadros, posteriormente, desdobrado em outros centros. Neles formaram-se sindicalistas que foram se filiando ao PT – partido que nasceu para implantar um regime socialista no Brasil.
No material didático da época lia-se: Compete ao [novo] sindicato "combater o capitalismo enquanto sistema econômico, político, social e ideológico que visa a exploração e a dominação de uma classe sobre a outra. Não se trata de tornar o capitalismo menos selvagem, mais humano ou mais justo. Trata-se da destruição do próprio sistema. Patrão e peão são como óleo e água: não se misturam; o óleo fica por cima e a água fica por baixo" (CUT, Caderno de Formação no. 1, 1987)
Vinte anos depois, em 23/01/2005, o MST inaugurou em Guararema (SP) a Escola Nacional Florestan Fernandes com o propósito de formar quadros para ocupar terras. A instituição dará apoio às 1.800 escolas de ensino fundamental (160 mil crianças), que já estão sob a influência do MST, onde, no 7 de setembro de 2004 comemoraram o "dia dos excluídos"; em 5 de março, o nascimento de Karl Marx; em 1º. de outubro, a revolução Maoísta; e em 8 de outubro, a morte de Che Guevara, cuja filha, Aleida Guevara, marcou presença no evento, ao lado do Ministro da Reforma Agrária e outras autoridades.
O MST também busca implantar um regime socialista no País quando diz: "Temos de reorganizar a produção agrícola de maneira diferente, com base em um sistema gerido pelos próprios trabalhadores. A reforma agrária tem de mexer na propriedade de todos os meios de produção – terra, máquinas, armazéns e agroindústrias – e adquirir um caráter revolucionário" (A Questão Agrária Hoje, citado por Xico Graziano, "Escola da Ilusão Perdida", Folha, 23/01/2005.)
Será que o núcleo do Governo do PT pensa igual? Acho que sim. Aliás, o Presidente da República, na mesma semana, ao visitar o acampamento instalado na Veracel Celulose em Porto Seguro (BA), classificou o MST como "um dos movimentos mais respeitados e mais sérios do País", desconsiderando que, em 4 de abril de 2004, 3.600 famílias invadiram e derrubaram 30 hectares da principal matéria prima daquela empresa – eucaliptos.
Como conciliar o PT dos "três mosqueteiros" (Palocci, Furlan e Rodrigues) que fazem tudo para garantir aos investidores liberdade de ação e direito de propriedade, com o PT de vários outros ministros que incentivam a invasão de terras e órgãos públicos e privados; que desejam submeter o conteúdo das universidades às "organizações de base"; que querem garrotear a cultura e a imprensa; que nomeiam milhares de dirigentes sindicais para funções técnicas; que tratam os bens do governo como de sua propriedade; e que usam recursos das empresas estatais para acirrada propaganda política?
Não vejo a menor contradição nessas duas alas. Para concretizar o projeto de poder do PT, os ministros da área econômica, conscientes ou não, se esforçam para ganhar credibilidade junto aos investidores até a próxima eleição. Os demais, dedicam-se a ações destinadas a inocular a "nova visão de mundo" na juventude e no povo em geral.
As ações se complementam, cumprindo à risca a cartilha de Antonio Gramsci, que via no choque entre as classes sociais o pior caminho para se chegar ao socialismo. Para o inteligente filósofo comunista italiano, é preciso usar os atuais meios democráticos para se desmoralizar, atacar e desconstruir os valores básicos da sociedade -família, escola, justiça, política, cultura, meios de comunicação e até o exercito - para, mais tarde, afastar, pelo voto, os mandatários atuais e abrir o caminho para os trabalhadores no poder. Será que isso atrai investimentos?
Cajamar e Guararema são duas peças-chave nessa empreitada – mas estão longe de ser as únicas. Os petistas costumam dizer que chegaram ao governo mas falta chegar ao poder e sabem muito bem que, para tanto, o trabalho junto às massas terá de ser contínuo e em todas as frentes para que estas se engajem de forma consciente na transformação da democracia representativa em democracia participativa. É a "revolução espontânea". Só não vê quem não quer ou quem se inebria pelos momentâneos indicadores da área econômica.
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