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Publicado no Jornal da Tarde, 11/06/2003.

O novo sindicalismo

Na sala de conferências da OIT, o templo do sindicalismo mundial, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva conclamou os dirigentes sindicais de todo o planeta a assumir uma nova postura em suas atividades ao dizer:

"Não temos o direito de continuarmos a fazer o mesmo tipo de sindicalismo que fazíamos há 20 ou 30 anos. É preciso que cada um de nós repense o papel que o movimento sindical tem, para que tenha credibilidade junto aos trabalhadores. Os dirigentes sindicais precisam adotar uma atitude política, não de filiação a partidos, mas que tome consciência de que muitas coisas que acontecem no mundo do trabalho são decididas fora do mundo do trabalho" (02 de junho de 2003).

Realmente, a vida mudou muito para o ex-sindicalista Lula ao mostrar-lhe que os problemas dos trabalhadores dependem da resolução de várias outras questões que estão fora da mesa de negociação ou da legislação do trabalho. Refiro-me aos juros, impostos, mercados, comércio internacional, produtividade, competitividade e tantas outras.

Será que Lula terá influência nos dirigentes sindicais que continuam a luta iniciada por ele nos idos dos anos 70? O que dizer dos seus companheiros da CUT?

A Central Única dos Trabalhadores elegeu Luiz Marinho como seu novo presidente. O comando saiu do setor de serviços, representado pelo professor João Felício, e voltou aos metalúrgicos. Marinho é um jovem amadurecido. Nas negociações das câmaras setoriais e nas empresas da sua categoria, ele pôde ver o que disse Lula - que os problemas dos trabalhadores vão além do mundo do trabalho.

Essa experiência lhe será útil. Além de Presidente da CUT ele integra o governo como Presidente do Conselho do Programa Fome Zero. Ou seja, é um dirigente sindical governante, como tantos outros companheiros que entraram no governo junto com Lula. Nas palavras do próprio Lula, nunca no Brasil tantos sindicalistas estiveram no poder o que o levou a concluir: "Não temos mais sobre quem jogar a culpa por não fazermos o que tem que ser feito".

Eles sabem o que têm de ser feito. Os trabalhadores estão contando com os 10 milhões de empregos e com a melhoria da distribuição de renda prometidos na campanha eleitoral. Os empresários aguardam ansiosos a redução dos juros e dos impostos. Os lavradores querem a terra da reforma agrária. Os fazendeiros contam com o fim das invasões do MST. O povo espera para ontem o combate ao crime e à violência. As famílias querem uma melhoria da bolsa escola para combater o trabalho infantil. Os professores contam com melhores condições de salário e de ensino. E assim por diante.

Não é à toa que Lula disse que a maioria dos problemas dos trabalhadores se resolve fora do mundo do trabalho. Repetindo, a vida ensinou muitas coisas novas do Presidente do Brasil. Vamos ver se isso foi aprendido pelos seus companheiros de governo e de sindicato.