Publicado no Jornal da Tarde, 12/01/2000
O destino do sindicalismo
Existirão sindicatos no século XXI? Essa é a questão que Leôncio Martins Rodrigues responde magistralmente no seu mais recente livro – Destino do sindicalismo, EDUSP, 1999.
Os sindicatos estão numa encruzilhada. Está desaparecendo o "caldo de cultura" no qual eles nasceram e cresceram. Como diz o Autor, em muitos países, "reduziram-se significativamente as grandes concentrações de trabalhadores; a produção em série; as más condições de trabalho e os baixos salários; a homogeneidade da força de trabalho; o peso da classe operária no interior da estrutura social; a diferenciação forte entre as camadas sociais; etc."
Nas novas condições de trabalho, a vida dos sindicatos tornou-se difícil e incerta. A maioria perdeu filiados. Muitos sofreram sérios abalos financeiros. Alguns morreram. Outros, estão em extinção. E o futuro?
Como conhecedor da não linearidade dos processos sociais, o Autor deixa claro que os movimentos sindicais variam de país para país e, por isso, a sua sobrevivência e evolução seguirão linhas variadas.
Mas, tudo indica que o sindicalismo do futuro jamais encontrará condições de negociações altamente centralizadas como as que lhes deu, anos a fio, sua grande força política. As negociações, onde existirem, serão descentralizadas. Muitas desembocarão em cooperativas, sociedades de auxílio mútuo, ONGs e sindicatos de empresas.
Levando em conta que a realidade se encaminha nessa direção, só resta concluir que o sindicalismo está com seus dias contados. Ele pode ter uma sobrevida mais longa nos países onde ainda existem condições de trabalho subumanas ou, no outro extremo, nos setores em que os sindicatos participaram da reforma e modernização de empresas e órgãos públicos – especula o Autor.
Mesmo nessas hipóteses, o âmbito de atuação dos sindicatos será muito restrito, estando sujeitos, ainda, à uma concorrência crescente de outras instituições. Para o Autor, o futuro reserva um amontado de problemas para o sindicalismo.
Aos ricos dados apresentados na bela obra, acrescentaria que o mercado de trabalho se dividiu em dois mundos: o mundo do emprego fixo, baseado no velho vínculo empregatício - que se reduz cada vez mais - e o mundo do trabalho variável, baseado na atividade autônoma, por projeto, subcontratada, etc. - que não pára de crescer.
Os sindicatos convencionais se desenvolveram no mundo do emprego. Isso não impede, porém, que as novas organizações sindicais venham contribuir, daqui para frente, para construir e gerenciar as necessárias proteções para o mundo do trabalho, montando, inclusive, programas de educação, treinamento, reciclagem e reconversão profissionais.
Penso que esse será um nicho promissor para o novo sindicalismo. Existe um mercado ávido e demandante de serviços de proteção e qualificação para quem ziguezagueia entre o mundo do emprego e o mundo do trabalho – a maioria dos trabalhadores.
Arrisco-me a dizer que essa pode se tornar uma tábua de salvação dos sindicatos atuais, abrindo-se, assim, uma nova era de proteção e qualificação do trabalho.
É bem provável que Leôncio Martins Rodrigues diga que isso não é sindicalismo – mas, ainda assim, acredito ser essa uma séria possibilidade de sobrevida para os sindicatos mais conscientes das necessidades dos novos tempos. Para esses, o futuro é bem mais esperançoso.
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