Publicado no Jornal da Tarde, 01/12/1999
O sexo das profissões
A distribuição das pessoas pelas diferentes profissões segundo gênero vem despertando o interesse de vários pesquisadores (Françoise Coré e outros, The future of female-dominated occupations, Paris: OECD, 1998).
A construção de carreiras profissionais sólidas e a elevação do status social da mulher dependem basicamente da sua participação no mercado de trabalho.
No Brasil, as mulheres já representam mais de 45% da força de trabalho. Mas, o que elas estão fazendo? Elas continuam engajadas nos tradicionais trabalhos manuais? Ou há mudanças?
Os dados coletados pelo IBGE indicam que ainda existem muitas ocupações de domínio masculino. Por exemplo, entre os eletricistas, encanadores, pintores e reparadores de equipamentos eletrônicos, 100% são homens. Entre os mecânicos, pedreiros, marceneiros, carpinteiros e torneiros mecânicos e serralheiros eles são mais de 99% e entre soldadores, 96% (Ana Maria Bianchi e José Pastore, "Novas evidências acerca das ocupações no mercado de trabalho", in Revista Nova Economia, Vol. 9, no. 1, Julho de 1999).
Entretanto, as mulheres começam entrar em várias profissões tradicionalmente masculinas. Por exemplo, entre os advogados, já há 31% de mulheres no Brasil. É uma mudança expressiva. No caso dos administradores do comércio 28% são mulheres.
Uma outra mudança substancial é a constatação de que 24% dos cargos de administração na indústria estão ocupados por mulheres. Entre os analistas e programadores, há 27% de mulheres, e entre os contadores, 24%.
Na outra ponta, há profissões que continuam sendo tipicamente femininas. Na profissão de manicure, 98% são mulheres; na de secretária, 95%; nas de costureira e professora de primeiro grau, 93%; entre os empregados domésticos, 91%; entre recepcionistas e enfermeiras, 87%.
Na ponta das profissões outrora femininas, porém, a mulher começa a sofrer a concorrência dos homens. Entre os cabeleireiros, por exemplo, já há 31% de homens; entre os professores de segundo grau, são 37%; e entre os auxiliares de escritório, são 46%.
É notável, todavia, o crescimento de profissões mistas, nas quais há de 40% a 60% de mulheres. Um destaque muito especial vai para os 58% dos cargos de diretores e chefes do setor público que são ocupados por mulheres.
Mas, o exemplo mais expressivo é a profissão médica onde há 57% de homens e 43% de mulheres. De uma atividade quase proibida para mulheres no início deste século, as mulheres, hoje em dia, são praticamente tão numerosas quanto os homens. O mesmo acontece com dentistas.
As mulheres avançaram também nas profissões de atendentes de lanchonetes (60%), operadoras de micro-processadores (41%), calçadistas (52%), embaladoras (46%), assistentes administrativas (67%). Tratam-se de profissões de status mais baixo, é verdade. Mas, para a maioria das mulheres, elas constituem uma importante via de ascensão social.
Os dados indicam, portanto, que as mulheres não só aumentaram numericamente no mercado de trabalho como quebraram a reserva de mercado em muitas profissões que durante muito tempo foram exercidas apenas por homens. Estas mudanças qualitativas são de grande importância para a construção das carreiras das mulheres e para uma convergência em direção a mais igualdade no mercado de trabalho.
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