Publicado em O Estado de S. Paulo, 06/01/1998
O custo do trabalho no Brasil
Cerca de 20% dos nossos trabalhadores ganham menos de um salário mínimo que eqüivale a US$ 105 por mês. Outros 20% recebem entre US$ 106 e 210 e 13% entre US$ 211 e 315 (IBGE, Pnad, 1996). Ou seja, mais da metade dos brasileiros ganha menos de US$ 320 mensais. é muito pouco!
Mas os salários variam de região para região. Nas regiões metropolitanas a média salarial (com registro em carteira de trabalho) é de R$ 668,00 por mês, ou seja, cerca de US$ 585 - o que, com encargos sociais de 102%, se transforma num custo de US$ 1,180 - US$ 5.36 por hora.
Os salários e custos do trabalho variam também de setor para setor. Na indústria de transformação, os custos estão 10% acima da média metropolitana, ou seja, US$ 5.90 por hora (com encargos). Dentro dela, há variação entre ramos. O salário médio dos horistas da Volkswagen é de R$ 1.350 mensais o que, com encargos, gera um custo de R$ 2.727, quase US$ 2.400 - US$ 10.91 por hora.
Comparações internacionais de salários nominais são complexas. Nem sempre elas incluem os mesmos encargos. Ademais, elas ignoram as diferenças de produtividade e os problemas de câmbio.
Feitas essas ressalvas, verifica-se na tabela abaixo, que o trabalhador brasileiro custa menos de um quarto do alemão; cerca de 28% do belga e do holandês; e pouco mais e pouco mais de um terço do americano e do japonês. Desconsiderando a produtividade, o custo é baixo.
Mas, em relação a nações da Ásia e ex-Europa Oriental, o quadro é outro. O custo do trabalhador industrial brasileiro é maior do que o da Coréia e Cingapura. Os trabalhadores da Malásia, Polonia e Hungria custam pouco mais de um quarto dos brasileiros. Na Tailândia, Filipinas e Bulgária custam cerca de 12%.
As dificuldades metodológicas impedem comparações mais finas. Mas é claro que tanto nos ramos de mão-de-obra intensiva (confecções) como nos de capital intensivo (automóveis e químicos), o custo do trabalho no Brasil não está entre os mais baixos do mundo.
Um trabalhador da indústria de confecções do Brasil custa mais do dobro de um do México e três vezes mais do que um da Costa Rica - sem falar nos da China e Tailândia. No caso dos automóveis, os custos são inferiores aos dos países desenvolvidos, mas superiores aos de Cingapura, Colômbia e México. E no caso do ramo químico, o Brasil tem o segundo custo mais alto do mundo.
Custo do Trabalho Industrial
em Setores e Países Selecionados
(US$ por hora)
Países |
Média na Indústria |
Setores Industriais Selecionados
Confecções
Automóveis
Químico |
Alemanha |
24.87 |
----- |
33.50 |
27.31 |
Bélgica |
21.00 |
----- |
33.00 |
21.42 |
Holanda |
19.83 |
----- |
----- |
20.91 |
França |
----- |
----- |
19.40 |
17.01 |
Inglaterra |
----- |
----- |
19.03 |
13.62 |
Itália |
----- |
----- |
18.68 |
16.16 |
EUA |
16.40 |
6.50 |
21.00 |
17.10 |
Japão |
16.91 |
6.62 |
----- |
21.42 |
Cingapura |
5.12 |
|
6.45 |
6.29 |
Coréia |
4.93 |
----- |
----- |
6.25 |
Hungria |
1.82 |
----- |
----- |
----- |
Malásia |
1.80 |
----- |
----- |
----- |
Polônia |
1.40 |
----- |
----- |
----- |
Tailândia |
0.71 |
0.46 |
----- |
----- |
Filipinas |
0.68 |
----- |
----- |
----- |
Bulgária |
0.63 |
----- |
----- |
----- |
China |
0.54 |
0.21 |
----- |
----- |
Colômbia |
---- |
----- |
6.45 |
----- |
México |
---- |
1.50 |
3.69 |
----- |
Costa Rica |
---- |
1.00 |
----- |
----- |
BRASIL |
5.90 |
3.25 |
11.50 |
25.90 |
Fontes: Para as médias internacionais, Bureau of Labor Statistics (1996) e para a média do Brasil, PME-IBGE (1997). Para confecções, Edna Bonacich, Global Production in the Apparel Industry, 1994 e Sindicato das Indústrias de Confecções, Brasil, 1997. Para automóveis, médias coletadas por várias montadoras (1997). Para químicos, ABIQUIM, O Custo da Mão de Obra na Indústria Química Brasileira, 1997.
Apesar das limitações apontadas, os dados indicam a existência de disparidades inter-setoriais importantes. Isso explica, em grande parte, a tendência mundial em direção à negociação descentralizada e ao nível das empresas - o que já começou no Brasil. No final de 1997, o setor de auto-peças de São Paulo assinou um contrato no qual o ajuste da jornada e do salário passou para o nível das empresas e no caso da Volkswagen, as negociações centraram-se inteiramente nos problemas daquela organização.
Tudo indica que essas inovações negociais vão prosseguir. Já foi o tempo em que metalúrgicos, químicos e bancários eram tomados como parâmetros por outras categorias profissionais, numa espécie de efeito dominó. Hoje, trabalhadores e empresas procuram ver aonde apertam os seus sapatos e se empenham em negociações mais realistas e menos teatrais. Esse realismo está surpreendendo a população e parte da imprensa. Muitos não perceberam que a vala-comum das leis, políticas salariais, indexação de salários e negociações setorizadas virou pré-história.
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