Publicado em O Estado de S. Paulo. 12/05/1990
Collor põe o dedo na ferida
O presidente Collor deu um claro recado ao se Ministério ao estabelecer três metas para melhorar a eficiência do setor público:
- corte de 20%-25% do pessoal atual:
- elevação substancial da produtividade dos funcionários remanescentes:
- combate efetivo ao lobby corporativo das empresas estatais.
Ao tocar nesses pontos, o presidente chegou bem perto de um diagnóstico preciso da principal causa dos previlégios do setor público, em especial das empresas estatais. Na sua fala, ele responsabilizou os administradores públicos por concessões exageradas às corporações das empresas estatais, colocando-as acima do mercado no campo do salário, da previdência e de outros benefícios colaterais.
O presidente pôs o dedo na ferida: os administradores das empresas estatais foram levados, nos últimos dez anos, a apenas ceder em lugar de trocar, no campo trabalhista. Todo ano, os sindicatos e as associações de trabalhadores apresentam suas pautas de reivindicações com dezenas de itens. E as empresas se limitam a conceder uns e a negar outros. Mas apenas conceder ou não conceder, achando que isso é negociar. Ora, negociar não é conceder. Negociar é trocar! Por isso, quando se pergunta quantos itens têm as pautas das empresas estatais, a maioria dos administradores fica surpresa – e o restante incomodado.
A prática da troca é essencial para se ganhar eficiência. Repetindo negociar não é conceder: negociar é trocar. O próprio presidente Collor já deu sugestões muito valiosas para serem incluídas na pauta das empresas estatais – em particular melhoria da produtividade, redução de custos, respeito à hierarquia e amor à empresa. A lista é infindável. Os que praticam a troca nas negociações trabalhistas sabem que economias gigantescas podem ser feitas através da troca. Por essa via, consegue-se atender simultaneamente aos interesses dos trabalhadores e das empresas. O segredo do sucesso japonês está exatamente na capacidade dos administradores das empresas de transformarem interesses divergentes em interesses convergentes entre empregados e empregadores.
Para muitos diretores de empresas estatais, o uso de pautas empresariais é prática desconhecida. Para a grande maioria, entretanto, ela é inconveniente. Tem sido mais cômodo para presidentes, diretores e gerentes de empresas estatais simplesmente ceder às pressões das corporações internas – em lugar de trocar. Dessa forma, eles evitam se indispor com seus funcionários. Ademais, ao concederem à base, acabam privilegiando os funcionário do topo da pirâmide – para não dizer a si mesmos. Forma-se, assim, um verdadeiro conluio entre as lideranças sindicais e a alta administração das empresas estatais, cujo resultado final é o aumento exagerado dos custos de produção, o repasse à tarifa com efeitos inflacionários ou geração de déficit para o Tesouro Nacional.
A mudança de conduta dos administradores nessa área é urgente e viável. Negociar com pautas empresariais é mais realista. é mais transparente, mais fácil e mais produtivo. Os bons exemplos são poucos mais eloqüentes. As poucas empresas estatais que praticam a troca e negociam com pautas são as que apresentam os menores custos de produção, maior produtividade e um relacionamento saudável entre empregados e empregadores. Dentre elas, têm destaque a Usiminas e a Cia Siderúrgica de Tubarão.
Há muito o que se aprender com esses casos. A gula das corporações pode ser contida. A via para isso é o estabelecimento de negociação com base em trocas, não só na data-base, mas ao longo de todo o ano. Foi essa a senha que o presidente Collor passou aos administradores das estatais. Só assim as empresas estatais serão integradas numa economia de mercado. A missão agora está com os ministros quais estão subordinados as dezenas de empresas estatais do Brasil.
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