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Publicado em O Jornal da Tarde,21/06/1997

Leis contra o emprego

Você já reparou que hoje se compra quase tudo nas bancas de jornais? Há bancas enormes. Uma delas, na Cidade Jardim, bem iluminada e até com ventiladores, tem 14 mts. de comprimento por 4 mts. de largura. Há ali uma geladeira da Kibon; outra de gelo em cubos; duas máquinas de coca-cola; uma de xerox; e até um fax. é uma verdadeira loja de conveniências que vende doces, chocolates, salgadinhos, cigarros, perfumes, bijuterias, brinquedos, souvenirs, fitas de vídeo, CD’s, carvão para churrasco e outras utilidades.

A maioria trabalha com artigos de papelaria: blocos, lápis, papel sulfite, envelopes, cartão de presente, etc. Já topei com uma "banca-farmácia" vendendo aspirina, Engov, sabonetes, escovas de dentes, modess e camisinhas.

As bancas de jornais estão se transformando num ponto de atração. Sei de gente que, sem ter o que fazer num domingo enjoado, vai passear na banca mais próxima. Um programão! Quase igual a um giro no shopping center.

Até o momento, a minha pesquisa não conseguiu identificar nenhuma banca atendendo emergências de pronto socorro ou fazendo psicanálise. Mas, várias estão penetrando nos ramos de encadernação, datilografia, feitura de curriculum vitae, e anunciando aulas de inglês, corte e costura, cabeleireiro, calista, desemtupidor de pia, pintor de paredes, massagista e tosador de cachorro. São comuns, também, os anúncios de "precisa-se": empregadas, copeiras, babás, enfermeiras, damas de companhia, etc.

O que explica essa diversificação de atividades? Várias coisas. Uma delas é que as bancas estão localizadas em excelentes pontos de vendas. Esquinas nobres. A maioria sonega impostos e não tira notas fiscais. Tudo é muito fácil.

Mas, há uma outra razão. Você já tentou comprar uma folha de papel sulfite num domingo? Há alguma papelaria aberta no seu bairro? E se precisar de uma aspirina? Você sabe qual é a bendita farmácia que está de plantão? E para fazer um bom bacalhau, sua mulher encontra supermercado aberto? Se precisar de uma broca, num sábado à tarde, para fazer um furo e fixar um quadro na parede? Há lojas de ferragens abertas na cidade?

No Brasil, as leis mandam o comércio abrir às 8 e fechar às 18:30 hs., com raras exceções. Aos sábados, até as 13 horas. Domingos e feriados, nem pensar. Isso é produto da "regulamenti-te" brasileira, importada da Europa.

Nos Estados Unidos, as lojas abrem quando querem. Muitas trabalham 24 horas por dia e 365 dias no ano - como fazem as boas bancas de jornais no Brasil. Elas se adaptam aos consumidores, que compram quando podem. Não é a toa que o comércio americano emprega 50% mais funcionários (por consumidor) do que o europeu ou o brasileiro.

O comércio e os serviços são grandes fontes de empregos. Enquanto a indústria encolhe, esses setores expandem os postos de trabalho. No mundo inteiro. Por isso, não tem cabimento continuarmos com o atual engessamento de horários do Brasil.

Nos Estados Unidos, Canadá e Japão, muitos bancos abrem nos fins de semana. é um tempo bom para tratar de empréstimos. Quando se vai a um shopping center, num domingo, compra-se de tudo. é a hora em que as pessoas têm tranqüilidade para fazer negócios demorados como, por exemplo, montar e comprar um pacote de viagem de férias ou adquirir uma apólice de seguro. Quem quiser usar um computador ou imprimir seus convites de casamento, há lojas (gráficas) que ficam abertas 24 horas por dia.

Isso é flexibilidade! As leis brasileiras não permitem nada disso. Elas são contra o emprego. Por isso, viva as bancas de jornais!