Publicado em O Jornal da Tarde,19/06/1996
Pagos para demitir
Você aceitaria um cargo numa mega-empresa com a incumbência de demitir 40 mil empregados? E se fosse para ganhar 14 milhões de dólares anuais?
Pois foi precisamente o que Robert Allen fez ao aceitar a presidência da AT&T - uma empresa que vem batendo todos os recordes de lucratividade.
Isso levanta uma séria questão: Onde fica a responsabilidade social da empresa?
Cinco celebridades da área trabalhista dos Estados Unidos participaram de uma mesa redonda sobre o tema. A discussão foi acalorada. Para alguns, a finalidade básica da empresa não se resume ao lucro, embora este seja essencial. Um bom executivo deve se preocupar com o nível de vida dos seus empregados e tratá-los com dignidade.
Para outros, a responsabilidade-chave do bom executivo é proporcionar gordos dividendos aos acionistas e preparar a empresa para crescer. Para tanto, ele tem de preservar em seus quadros apenas o necessário, livrando-se do desnecessário, por mais dolorosa que seja essa tarefa.
Até recentemente, dizia-se que quando as empresas iam bem, os seus empregados também iam bem - tinham seu emprego garantido. Isso passou. Hoje em dia, empresas lucrativas demitem em massa, transferindo renda dos empregados para os acionistas e deixando milhares de famílias perplexas diante de estrondoso sucesso econômico e retumbante fracasso social.
Como perseguir a eficiência econômica e garantir eficácia social? O que fazer com os excluídos?
No passado, as nações mais avançadas procuraram acomodar essas pessoas nos programas do "social welfare": seguro-desemprego, aposentadoria, assistência social, etc. Mas isso também ruiu. Os orçamentos da seguridade quebraram.
Nos Estados Unidos pensa-se em criar incentivos para as empresas que viessem a reter empregados, gozando de reduções de impostos, taxas, regulamentos, etc.
Será que isso resolve? Penso que não. é preciso lembrar que a riqueza criada pelas empresas que enxugam seus quadros tende a se transformar em investimentos que geram oportunidades de trabalho em outros setores.
é verdade que a tecnologia atual inibe a força dos investimentos no campo do trabalho e que o capital é um viajante assíduo que se desloca de um país para outro, criando trabalho longe de onde foi construído.
Apesar disso, os investimentos ainda têm uma força incrível para gerar trabalho. Os dados mostram que os Estados Unidos mantém 95% dos americanos ocupados dentro do próprio país nas mais variadas modalidades de trabalho, amparadas por legislação e formas de contratação bastante flexíveis. Na Europa o enxugamento dos quadros foi bem menor. Em contrapartida, o continente não gerou um só emprego entre 1973-94, quando os Estados Unidos criaram cerca de 38 milhões de novas oportunidades (Lester Thurow, The Future of Capitalism, New York, 1996). Só em Maio de 1996, surgiram naquele país 367 mil novos postos de trabalho. O desemprego está em torno de 5% enquanto na Europa passa dos 10%. Há casos de 15% e 20% (Bureau of Labor Statistics, 1996).
Isso mostra que a geração de oportunidades de trabalho depende em grande parte: (1) da lucratividade das empresas; (2) do bom uso do lucro em investimentos produtivos; (3) e da flexibilidade da legislação e da contratação para apoiar novas modalidades de trabalho.
Por isso, se lhe oferecerem um emprego de 14 milhões de dólares para promover dispensas de pessoal, não hesite. E nem se sinta culpado. Você poderá estar contribuindo para gerar muitas oportunidades de trabalho em outros setores. Voltarei ao assunto no meu próximo artigo.
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