Publicado em O Jornal da Tarde,23/06/1994
O Brasileiro trabalha muito?
O brasileiro trabalha muito ou pouco? Há brasileiros e brasileiros. Há gente que trabalha demais e gente que trabalha de menos.
Neste tempo de Copa do Mundo muita gente entrou na base do "flexi-time" - os que fazem de conta que trabalham igual, em horários diferentes. A Bolsa de Valores de São Paulo, por exemplo, passou os pregões para o horário de 9:30 às 14:30. A Scânia tentou transferir para os sábados o trabalho não realizado na semana mas os empregados não toparam. Preferiram sofrer redução de salário. Afinal, o Brasil merece que todos se sacrifiquem um pouquinho...
Os bancários também reivindicaram sair mais cedo. Mas isso não foi aceito pelos bancos pois, a chegada do real está a exigir mais trabalho, e não menos. A propósito do real, os supermercados cogitam de não trabalhar no dia 30 de Junho por necessidade de remarcação dos preços na nova moeda. Muitas lojas pensam parar também uma parte do dia 1º de Julho porque não têm tempo de fazer os acertos na noite anterior. Fechando tais estabelecimentos, paralizam-se também várias outras atividades.
E o Congresso Nacional? Ah!..., esse já não funciona em tempos normais, imaginem em dias de jogo! Mas, façamos justiça. Na semana passada, os parlamentares decidiram "apressar" alguns projetos. Palmas para eles. Só na noite da quinta-feira, aprovaram treze medidas provisórias. Logo treze.
Treze é também o número de feriados no Brasil, contando-se os 11 nacionais e 2 para comemoração de datas locais (estado, município, padroeira, etc). Quando se consideram todas as costas para seu povo para ajudar os estranhos.
é interessante notar que, nos últimos anos, a política dos países do Primeiro Mundo junto aos países do Terceiro Mundo têm enfatizado muito mais a democracia do que o desenvolvimento. Longe de mim dizer que a democracia é a antítese do desenvolvimento. Mas não sou nenhum ingênuo a ponto de achar que, simplesmente democratizando, o país se desenvolve. O relacionamento entre esses dois fatores é extremamente complexo.
Os países mais ricos sentiram ser muito mais cômodo promover a democracia do que o desenvolvimento em nossas regiões. A construção da democracia, para eles, envolve custos econômicos e políticos bem menores do que a promoção do desenvolvimento.
Isso é verdade no curto prazo. Mas, no longo prazo o quadro é outro. A manutenção da atual estagnação econômica no Terceiro Mundo e o antecipado inchaço de sua população constituem, certamente, a mais dramática ameaça aos países mais ricos. O Presidente François Mitterand já avaliou bem o perigo dessa tocaia histórica e promete comparecer à reunião do G-7 para propor que os países ricos venham a destinar cerca de 0,7% de seu PIB, anualmente, para ajudar o desenvolvimento dos países mais pobres - o que daria cerca de US$ 130 bilhões por ano.
Trata-se de um gesto inteligente. Mas, isso ainda é muito pouco para fazer face às monumentais necessidades de desenvolvimento do Terceiro Mundo. E menos ainda quando se leva em conta o interesse que seria atendido da parte do Primeiro Mundo. Afinal, a manutenção de sua paz deve valer bem mais do que US$ 130 bilhões anuais - o que dá cerca de US$ 8.00 por mês para cada habitante, ou seja, apenas R$ 8,00. Sim, oito reais! De qualquer modo, o francês deu o primeiro lance. Está aberta a negociação.
am iluminação, refrigeração, aquecimento e purificadores de ar. Trabalham em locais apertados e insalubres. Não reclamam e não faltam no serviço. E trabalham nos fins de semana com o mesmo entusiasmo que o fazem nos dias úteis.
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