Publicado em O Jornal da Tarde,04/11/1993
O problema da hora-extra
Discute-se no Brasil o que fazer para se reduzir o uso de horas extras e aumentar o volume de emprego enquanto que nos países mais avançados discute-se a nova tendência de "crescimento sem empregos".
O debate sobre o crescimento sem emprego não é meramente acadêmico. Trata-se de um fato real, mensurável e brutalmente desumano. Ele significa que os países estão saindo da recessão com ganhos de produtividade fantásticos e empregando pouca gente. As novas tecnologias e formas de gestão garantem produzir mais com menos insumos, inclusive mão de obra.
No que tange a mão de obra, as empresas modernas buscam alta qualidade, baixo custo e ampla flexibilidade para contratar, mais acentuada. Mesmo nestes dois últimos casos, a corrupção contínua viva. Os entrevistados acreditam que ela pode voltar aos patamares anteriores a qualquer momento.
Segundo estimativas do Instituto de Pesquisas Luigi Einaudi, a corrupção na Itália foi responsável por um adicional de 15% da dívida pública, ou seja, US$ 200 bilhões! (Business Week, 06-12-93). é evidente que a corrupção inflaciona custos e torna a administração pública exageradamente cara o que, em última análise, aumenta a dívida do governo e eleva os preços para os consumidores.
é pena não dispormos de dados semelhantes para saber qual seria o "ranking" do Brasil, no volume e no impacto econômico da corrupção. Desconhecemos também o que aconteceu com a corrupção antes e depois do escândalo do orçamento. Parece ser plausível, porém, levantar-se a hipótese de que o quadro brasileiro é parecido com o italiano. Basta lembrar que várias das irregularidades apuradas pela CPI do orçamento foram praticadas depois da CPI do Collor. Ou seja, nem o impeachment assustou os profissionais do crime organizado. Aliás, muitos deles, foram os mesmos que, na votação do impeachment, machistamente ornamentaram seu voto com frases inesquecíveis, tais como: "Pela ética; pela minha família; pela Bahia; e pela minha Pátria, voto sim"!
A corrupção faz parte de nossa "tradição de negócios" e, como tal, não pode ser destruída do dia para noite. Os estudiosos dessa matéria consideram esse problema como doença incurável. Isso não significa que a sociedade deve ficar inerte o que, certamente, provocaria a mais completa desorganização social assim como a inércia do diabético o levaria à morte.
Os prejuízos da corrupção vão bem além dos custos econômicos. Ela deteriora os valores no mundo dos negócios e cria um clima de cinismo que, rapidamente, se espalha por toda sociedade. Dentro de pouco tempo, isso contamina a família, a escola, o grupo de trabalho, a reunião de condomínio e assim por diante. São os custos não mensuráveis que podem pesar mais do que os mensuráveis.
O esforço das CPIs é louvável. Mas, o Brasil ainda está muito longe de poder reduzir efetivamente a corrupção. O controle da corrupção só ocorre quando a sociedade organiza mecanismos de combate permanente aos corruptos e corruptores. Isso já é feito nas sociedades mais avançadas. Nem por isso elas estão livres da corrupção mas, certamente, os mecanismos especializados conseguem detê-la a um nível mínimo.
Dentre os mecanismos mais usados, são comuns os órgãos de vigilância contínua em relação à conduta de corruptos e corruptores em potencial. Não se trata de mera fiscalização ou auditoria, mas sim da mobilização de procedimentos visíveis a todos os infratores em potencial, tais como: órgãos de inteligência e ação rápida contra os corruptos e corruptores, penalidades severas e visíveis, uso de auditoria profissional e independente
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