Publicado no Jornal da Tarde, 06/09/00
Calote na sua poupança?
O Lula perdeu a eleição em 1989 porque espalhou-se no eleitorado brasileiro que ele iria
confiscar a poupança da população - exatamente o que Collor negou e fez depois
de eleito.
A corrida final foi desesperadora. Nos últimos dias da campanha Lula e toda sua equipe se
esforçaram em desmentir a “calúnia”. De lá para cá, porém, a vontade de fazer
uma moratória ou, mais do que isso, simplesmente negar o pagamento aos credores
voltou a circular entre vários economistas do PT.
Ao discutir o assunto, eles sempre simularam na retórica, de modo a evitar dizer diretamente
o que nutriam em seus sonhos. Mas, no fundo, todos distilavam a conta-gotas o sinistro
plano do calote.
Agora, com o plebiscito que se encerra amanhã, o que era escamoteado ficou transparente. O PT, junto
com a CNBB e o MST defendem abertamente a idéia do calote e querem saber se o
povo concorda com isso.
O debate na mídia e a divulgação do plebiscito têm focalizado o calote da dívida
externa. Mas, a cédula de votação contém três perguntas, duas em
relação à dívida externa, e uma referente à dívida interna.
Na primeira pergunta, as entidades querem saber o que o povo acha do acordo com o FMI. Será
que foi explicado o teor desse acordo? Os eleitores entenderam? Conhecem as
suas consequências?
Na segunda pergunta, as entidades desejam saber se o povo concorda em fazer uma auditoria
da dívida externa, como prevê a Constituição Federal. Será que todos sabem o
que é uma auditoria? Quem faria essa auditoria? Dá para confiar nos seus
executores?
A terceira pergunta focaliza a dívida interna. Mas aqui, sutilmente, pergunta-se se é
certo para os governos continuarem pagando o que devem aos especuladores. Será
que os eleitores sabem que os recursos aplicados em caderneta de poupança, CDB
e outros títulos públicos fazem parte da dívida interna?
Mais especificamente, será que os recursos da minha e da sua poupança, que foram ganhos
com o suor do nosso trabalho, estão nesse meio? Será que somos especuladores?
Afinal, o que é um especulador?
O PT parece não ter apreendido com os erros do passado. Solta outra vez o fantasma do calote da
poupança nas vésperas de eleições municipais, nas quais tem uma grande quantidade
de candidatos concorrendo a postos importantes de prefeito e vereador.
Se não bastasse o desatino em calotear os credores externos - o que provocaria, entre outras
coisas, uma suspensão da entrada de produtos estrangeiros (inclusive petróleo,
trigo, matérias primas) e fuga maciça de capitais, com fechamento de empresas e
destruição de empregos, o partido detona, outra vez, a bomba de “garfar” as
economias populares.
Você que tem a sua caderneta de poupança formada a duras penas e preparada para uma hora de
emergência, ou você que tem algum recurso aplicado em um CDB para comprar uma
casinha nos próximos meses, vai aí um alerta. Se votou “sim”, vá se preparando
pois você acabou de dar respaldo a quem defenderá a céu aberto um calote na sua
poupança. Se você ainda não votou, pense no que vai fazer. E se não pretende
votar, fique atento no ilusionismo das palavras quando se defende um calote que
pode constituir um verdadeiro tiro no pé dos brasileiros.
É claro que as dívidas estão estrangulando a nossa economia, e asfixiando o crescimento. Mas,
tudo será muito mais grave se o País vier a repudiar as duas dívidas. Nem João
Paulo II, com toda a sua bondade, ousou fazer isso. Nas suas palavras, lê-se
claramente uma proposta de pedido de perdão, mas não de calote unilateral.
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