Publicado no Correio Braziliense, 22/07/1998
Eleições e desemprego
Em época de campanha eleitoral é comum especular-se sobre o peso dos problemas econômicos na decisão do eleitor, em especial inflação e desemprego.
O poder corrosivo da inflação é inegável. Os brasileiros passaram por isso e sabem muito bem o quanto é fácil para os candidatos de oposição explorar a incompetência dos governantes ao apontar a destruição do poder de compra dos eleitores. Para os candidatos da situação isso é mortal. Afinal, a inflação atinge a quase toda a população. Dela, ficam excluídos apenas os poucos que conseguem usar os mecanismos de proteção financeira.
E o desemprego? Até que ponto ele deteriora a imagem dos candidatos ligados ao governo?
No Brasil, o medo de perder o emprego bateu todos os recordes. Nas sondagens de opinião pública realizadas em maio último, mais de 70% das pessoas revelam temer o desemprego (pesquisa CNI/Ibope).
Será que os candidatos da oposição conseguirão levar todos os temerosos a votar contra o governo? Não é nada fácil conseguir tal façanha. Os estudos nesse campo mostram que, na determinação do voto, pesa mais a velocidade de crescimento do que o nível do desemprego. Ou seja, quando o desemprego dispara, assusta muito mais do que quando é alto (Gilles Saint-Paul, High Unemployment from a Political Economy Perspective, 1997).
É evidente que, na determinação do voto, entram em jogo dezenas de fatores. Voltemos, porém, ao desemprego. Várias pesquisas confirmam que o risco de os candidatos governantes perderem as eleições é muito maior quando o desemprego sobe do que quando ele é alto. Altas taxas de desemprego ao longo do tempo definem quem está e quem não está desempregado. A escalada rápida do desemprego, entretanto, põe todas as pessoas em sobressalto. Serei eu a próxima vítima?
Isso explica, em grande parte, por que as pesquisas de opinião pública realizadas no Brasil recentemente registraram um forte aumento do medo do desemprego. Lembrem-se que a taxa de desemprego passou abruptamente da casa dos 5% em 1997 para 8% em 1998. A ampla divulgação de um crescimento tão veloz como esse espalhou a apreensão em milhões de pessoas.Todavia, essa explicação não esgota o quebra-cabeça do Brasil. Afinal, por que tanto medo do desemprego se ele atinge apenas 8% da força de trabalho? Bem diferente é o caso da Alemanha, onde a desocupação atinge 12%; da França que tem 13%, da Itália, 14%, e da Espanha 20%.
No Brasil o medo do desemprego é agravado por uma fonte adicional. Cerca de 57% da força de trabalho está no mercado informal. Quando se soma a informalidade com o desemprego, chega-se à conclusão de que quase dois terços dos brasileiros enfrentam algum problema de emprego.
A informalidade potencializa o medo de ficar sem trabalho. Os dados da citada pesquisa CNI/Ibope mostram que os trabalhadores da informalidade, em especial os que trabalham por conta própria, são os que mais temem o desemprego.
No caso desta campanha eleitoral, os candidatos governantes têm a seu favor o retumbante sucesso no campo da inflação. Eles podem ainda manipular o medo da volta da inflação que, certamente, atinge muito mais gente do que o temor do desemprego.
É provável que a taxa de desemprego venha descer para o patamar de 7% na reta de chegada das eleições, pois, afinal, a própria campanha, de âmbito nacional, gera muita ocupação. A mudança, se ocorrer, pode ser explorada como a inflexão da "partida definitiva rumo ao pleno emprego". Afinal, papel e microfone são os bens mais indefesos, aceitam tudo. É assunto para os marqueteiros.
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