Publicado no Correio Braziliense, 28/06/1998
Saudosistas da inflação
A falta de emprego está tão grave que muitas pessoas dizem sentir saudades dos tempos da inflação... Você é uma delas?
O problema do emprego se agravou nos últimos anos, em especial em 1997-98. O Brasil está gerando, anualmente, 1,1 milhão de postos de trabalho quando deveria gerar 1,5 milhão. O mais grave é que cerca de 80% dos novos empregos surgem no setor informal e apenas 20% no formal.
É triste ver que isso acontece num país que tem um enorme potencial empregador. Tudo está por ser construído. A superação das deficiências da nossa infra-estrutura demanda obras que geram muitos postos de trabalho. Para cada 1% a mais nesse setor corresponde um crescimento de 1% do PIB e 0,5% do emprego – uma enormidade!
O Brasil tem muito a fazer também no comércio e serviços. Vejam o caso do turismo. O mundo emprega cerca de 10% da sua força de trabalho nesse campo enquanto o Brasil emprega 2%. Com sol o ano inteiro, belezas naturais e contrastes regionais, podemos gerar muito mais empregos.
Da mesma forma, para superar as carências em educação, saúde e assistência às crianças e à velhice, será necessário muito trabalho – e muitos empregos.
Bem diferente é a situação dos países avançados nos quais a infra-estrutura está pronta, a exploração do turismo está no limite e o atendimento social já é digno.
Em nenhum setor da economia haverá emprego sem estabilização monetária. Se a situação está difícil com a estabilidade atual, ela será caótica se a inflação voltar.
Entretanto, o Plano Real baseou-se no tripé da estabilidade da moeda, nas reformas econômicas e em mudanças institucionais. A única perna erguida foi a primeira.
No campo econômico tivemos apenas a isonomia de tratamento para as empresas estrangeiras, a reforma do sistema de cabotagem e a queda de alguns monopólios. É muito pouco. Nada ocorreu na área tributária, por exemplo, que é essencial para ativar as exportações e os empregos.
No campo institucional, chegamos a uma minirreforma administrativa e uma pífia reforma previdenciária. Nada se fez na área trabalhista, além do tímido e superburocratizado contrato de trabalho por prazo determinado.
O Plano Real não pode ser culpado por aquilo que não foi feito. E nem pelos efeitos secundários (por exemplo, juros altos) decorrentes da inação dos congressistas.
O que esperar da nova safra de parlamentares? Vamos continuar com remendos e condenando a juventude ao subemprego, ou vamos partir para a modernização das nossas instituições e transformar o Brasil numa usina de empregos para quem precisa trabalhar?
Essa escolha não é nem da Ásia, nem da Rússia, nem da Wall Street e nem do FMI – é nossa, e só nossa!
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