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Publicado em O Estado de S. Paulo, 08/02/2005.

Escola de invasores

Uma coisa não pode ser contestada. Os movimentos sindicais de esquerda do Brasil sempre investiram bastante na formação de quadros. Em meados dos anos de 1980, a CUT criou em Cajamar (SP) um sofisticado centro de treinamento que tinha Paulo Freire como seu orientador pedagógico. O MST, que mantém relações com sindicalistas de esquerda, inaugurou recentemente (23/01/2005), em Guararema (SP), a Escola Nacional Florestan Fernandes.

Cajamar ajudou a formar muitos dirigentes sindicais que mais tarde se transformaram em expoentes do PT. Nos livros didáticos do Instituto Cajamar lia-se: Compete ao [novo] sindicato "combater o capitalismo enquanto sistema econômico, político, social e ideológico que visa a exploração e a dominação de uma classe sobre a outra. Não se trata de tornar o capitalismo menos selvagem, mais humano ou mais justo. Trata-se da destruição do próprio sistema. Patrão e peão são como óleo e água: não se misturam; o óleo fica por cima e a água fica por baixo" (CUT, Caderno de Formação no. 1, 1987).

A nova escola do MST é para ensinar a ocupar terras. No seu material didático lê-se: "Temos de reorganizar a produção agrícola de maneira diferente, com base em um sistema gerido pelos próprios trabalhadores. A reforma agrária tem de mexer na propriedade de todos os meios de produção – terra, máquinas, armazéns e agroindústrias – e adquirir um caráter revolucionário" (A Questão Agrária Hoje, citado por Xico Graziano, "Escola da Ilusão Perdida", Folha, 23/01/2005).

Mensagens como essas já vem sendo passadas a 160 mil crianças que estudam nas 1.800 escolas que, há vários anos, estão sob influência do MST e onde no 7 de setembro de 2004 comemoraram o "dia dos excluídos"; em 5 de março, o nascimento de Karl Marx; em 1º. de outubro, a revolução Maoísta; e em 8 de outubro, a morte de Che Guevara, cuja filha, Aleida Guevara, marcou presença em Guararema, ao lado do Ministro da Reforma Agrária e outras autoridades.

Essas ações vem sendo assistidas pelos atuais governantes que não titubeiam em deixar de lado a lei para apoiar idéias que estão na origem da sua história de vida. O próprio Presidente Lula, ao visitar recentemente o acampamento instalado na Veracel Celulose em Porto Seguro (BA), classificou o MST como "um dos movimentos mais sérios do País", desconsiderando que 3.600 famílias invadiram e derrubaram 30 hectares da principal matéria prima daquela empresa – eucaliptos. Na oportunidade, disse que a culpa não é dos invasores e sim da "estrutura da nossa sociedade".

O que deve pensar um investidor que vê esses descalabros se multiplicarem no País? Como reaver uma propriedade invadida quando o Presidente isenta os invasores?

A violação à lei, praticada de maneira impune e até incensada pelas autoridades constituídas deve ser um ponto de grande preocupação para um País que precisa estimular investimentos e empregos. Em entrevista concedida ao Estado em 02/02/2005, o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reconhece que "a perspectiva de risco do Brasil ainda é elevada" e se deve à percepção que o mercado formou com base nas "ações do passado".

É claro. Os investidores procuram conhecer a história pessoal e as idéias defendidas pelos mandatários da Nação. Mas a referida percepção do risco não se cinge às conclusões sobre o passado dos atuais governantes. A sua preocupação é alimentada pelo dia-a-dia do noticiário que revela o sistemático desrespeito ao direito de propriedade (rural e urbana), assistido pelo Governo.

Nessa base, os investidores vão demorar muito para adquirir a necessária confiança. O socialista José Luis Zapatero, primeiro ministro da Espanha, cobrou do Presidente Lula uma só coisa para ampliar os investimentos espanhóis no Brasil: "regras firmes e obedecidas".

O Brasil não pode prescindir de colossais aportes de capitais (estrangeiros e nacionais) para os grandes projetos de infra-estrutura e outros. Mas eles continuarão distantes se o Governo continuar apoiando escolas de invasores, estatização de agencias reguladoras, nomeações de agentes públicos para dirigir órgãos privados, e assim por diante.

O pior é que essa visão intervencionista de um socialismo fracassado vem sendo inoculada, sorrateiramente, nas nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos através da escola e dos meios de comunicação e nos moldes recomendados pelo inteligente filósofo comunista italiano, Antonio Gramsci que via na desconstrução dos valores atuais a principal ação para se chegar a "valores novos". Isso também faz parte da estratégia de formação das mentes mas não casa com o desejado crescimento sustentado.