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Publicado em O Jornal da Tarde,26/08/1998

Carta aos candidatos

No passado, depois de examinar superficialmente a propaganda que me enviavam, eu jogava a correspondência no lixo.

Desta vez está sendo diferente. Estou respondendo a todos os que me mandam santinhos, panfletos, cartazetes, etc., com a pretensão de se elegerem para o Congresso Nacional.

Há cerca de 15 dias eles estão recebendo a seguinte carta:

Prezado candidato:

Fiquei honrado em poder ser considerado como um seu eleitor em potencial. Como a única arma democrática que possuo é o meu voto, antes de me decidir, gostaria que você me respondesse às seguintes questões:

1. Gerar empregos depende muito de aumentar nossas exportações e, para tanto, é necessária uma reforma completa do atual sistema tributário. Que tipo de reforma você vai defender no Congresso Nacional? Descreva o impacto de sua proposta no campo do emprego.

2. A geração de emprego depende também de uma reforma completa do nosso sistema de relações do trabalho. Que tipo de reforma você pretende defender? Demonstre o seu reflexo da criação de postos de trabalho.

3. O Brasil optou por um sistema trabalhista que implica no pagamento de altos encargos sociais e baixos salários. Enquanto na Europa se paga, em média, 60% de encargos sociais; no Mercosul, 50%; no Japão 12%; nos Tigres Asiáticos 10%; e nos Estados Unidos, 9% - no Brasil, paga-se 102%, com benefícios discutíveis. O que você pretende fazer para mudar esse quadro a fim de colocar mais salário no bolso dos trabalhadores e menos despesas nos cofres das empresas?

Se você não me responder, esqueça o meu voto, assim como do voto de todas as pessoas às quais vou mostrar esta carta e conversar à respeito da sua conduta.

Se você decidir me responder, comece por fornecer o número do seu telefone celular, pois desejo conversar muito consigo antes e depois da eleição.

Insisto no celular, porque gostaria de evitar ligar para aqueles telefones atrás dos quais se põem batalhões de secretárias para dizer que você está em reunião e não pode atender... Atenciosamente,

Já enviei cerca de 40 cartas desse tipo. Dá um pouco de trabalho, mas não é tanto. O modelo está gravado no computador. Feito isso, a minha tarefa é simplesmente de personalizar a carta e o envelope, colocando-os no correio. Francamente, acho muito pouco em vista do tanto que podemos fazer para melhorar a nossa democracia.

Até agora não recebi uma só resposta, mas eu não desisti de enviar as minhas cartinhas de amor a todos os que entraram na minha casa com a pretensão de conquistar o meu voto, dos meus familiares, amigos e demais pessoas com as quais me relaciono e tenho certa influência como formador de opinião.

Se você conhece estratégia melhor, por favor, me avise pelo E-mail abaixo. Se você concorda que o meu expediente, faça o mesmo. Adapte a carta aquilo que você considera mais importante, e passe a atazanar a vida dos candidatos.

Não esqueça de obter o seu celular, que sempre toca nos momentos e lugares mais impróprios... Boa sorte.