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Publicado em O Jornal da Tarde,11/10/1995

Investir em mulher dá certo

Fui seu colega no final dos anos 70 na Universidade de Yale. Sua especialidade era a demografia econômica. Mas, ele sempre teve uma especial predileção pela teoria do capital humano.

Estou falando de T. Paul Schultz. Ele é filho do professor Theodore W. Schultz, prêmio nobel de economia e criador da teoria do capital humano. Segundo essa teoria, os gastos em educação, longe de serem itens de despesas, constituem excelentes investimentos. As pessoas bem educadas tendem a construir belas carreiras e ganhar bons salários. Como dizem os economistas: os "retornos privados" da educação são muito altos.

As pesquisas mostram que esses retornos privados são mais altos entre os homens do que entre as mulheres. Para o mesmo nível de educação, na média, os homens ganhavam mais do que as mulheres.

T. Paul Schultz estava insatisfeito pelo fato dessas pesquisas se concentrarem apenas nos retornos privados monetários - o salário. Por isso, resolveu identificar os "retornos sociais" e "não monetários" da educação. Dentre outros, o autor estudou os seguintes países: Estados Unidos, Coréia, India e Brasil (Human Capital Investiment in Women e Men: Micro and Macro Evidente of Economic Returns, San Francisco: ICS Press, 1994).

Ao entrar por essa avenida, abriu-se um mundo novo. O quadro virou por completo. Para todos os países, os dados mostram que os investimentos na educação da mulher dá resultados sociais não monetários de grande impacto para o desenvolvimento econômico.

As mulheres, quando educadas, cuidam melhor da saúde pessoal e dos membros de sua família, em especial, das crianças. Mães educadas transferem bons hábitos de higiene para os filhos e orientam suas vidas de modo mais seguro. Elas educam melhor as crianças; ajudam-nas na escola, reduzindo a repetência e a evasão.

Além disso, a educação leva as mulheres a terem menos filhos, reduzindo o risco da gravidez indesejada e fazendo baixar a taxa de fertilidade da sociedade. Os homens, com igual educação, têm uma influência muito pequena na taxa de fertilidade da mulher, no tamanho da família e na transmissão de bons hábitos para as crianças.

T. Paul Schultz identifica, assim, uma série de "externalidades" que são específicas da mulher, sendo tão ou mais importantes do que a simples mensuração do retorno privado através do salário monetário. Essas externalidades são comummente negligenciadas pela pesquisa econômica apesar de seu enorme impacto na vida das pessoas e na promoção do bem estar. As famílias de mulheres bem educadas têm um menor risco de caírem na pobreza.

Os dados do Brasil indicam que, na última década, houve também um grande avanço na educação das mulheres. Hoje em dia, para todas as idades, há mais meninas do que meninos nas nossas escolas. Entre elas, as taxas de evasão e repetência têm sido menores. São indicadores de uma atenção crescente para com as mulheres. Na teoria de Schultz, esta melhoria terá impactos muito positivos nas próximas gerações.

é claro que, vários outros fatores entram na equação final do desenvolvimento do país. Mas, não deixa de ser alentador verificar que o Brasil está valorizando a escolarização das meninas. Isso é muito bom pois, investir em mulher dá certo.