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Publicado no Jornal da Tarde, 01/03/2006.

Cuidado: mulheres trabalhando

José Pastore

Na próxima quarta feira comemora-se o Dia Internacional da Mulher. É tempo de avaliar o progresso e enfrentar os problemas.

A mulher terminou o século XX com uma série de conquistas. Um dos principais avanços foi na área da educação. No Brasil, as mulheres entraram maciçamente nas escolas de nível médio e superior. Há dez anos (1996) as matrículas femininas nas faculdades do País já superavam as masculinas em 8,7%. Mas, hoje superam em 13%.

A caminhada educacional da mulher não parou aí. A pós-graduação foi seu próximo alvo, e com sucesso. Há dez anos, havia cerca de 21 mil professoras universitárias com mestrado. Hoje, são mais de 48 mil – – um aumento de 128%. Entre os homens o salto foi de 25 mil para 52 mil – um incremento de 108%. O mesmo ocorreu com as professoras que possuem doutorado que passaram de 10 mil para 22 mil – 120%. Entre os homens, o salto foi de 20 mil para cerca de 35 mil – 75%.

Além das mulheres terem se educado mais, elas penetraram em profissões que eram predominantemente masculinas. Hoje, a maioria dos médicos, dentistas, advogados e juizes é composta por mulheres. Até mesmo onde as mulheres estavam ausentes, por se tratar de ocupações quase que exclusiva dos homens, elas se fazem presentes nos dias atuais, apresentando um bom desempenho. No dia 30 de novembro de 2004, por exemplo, levantou vôo pela primeira vez no Brasil um jato conduzido inteiramente por mulheres. A penetração continua. Hoje, cerca de 150 mulheres trabalham como pilotos na aviação comercial.

As mulheres entraram no mercado de trabalho como empregadas, como profissionais por conta própria e como empresárias. Na década de 70, apenas 0,3% das mulheres economicamente ativas eram empresárias. Hoje, são 20%. É verdade que nessa categoria se incluem muitas micro-empreendedoras que trabalham precariamente. Mas, no geral, foi um avanço fantástico.

O avanço se deu também na hierarquia das empresas. Dentre 287 mil cargos de chefia pesquisados pelo Grupo Catho, 89 mil são mulheres (31%). As mulheres na liderança de pessoas têm se mostrado rigorosas e eficientes.

As diferenças salariais entre homens e mulheres diminuíram devido a dois fatores. De um lado, os salários das mulheres subiram. De outro, os salários dos homens caíram. O fato é que, para a mesma profissão e mesmo nível de educação, os salários das mulheres estão cerca de 30% aquém dos salários dos homens, em média. Essa diferença era mais de 50% na década de 70.

No mundo da mulher, entretanto, nem tudo são rosas. As mulheres vêm assumindo cada vez mais a chefia do lar, acumulando com suas responsabilidades fora de casa -, o que representa uma grande sobrecarga de trabalho. Hoje, cerca de 25% das famílias da Grande São Paulo são chefiadas por mulheres.

Ao atingir a terceira idade, a sobrecarga continua. É enorme o número de mulheres idosas que moram com filhas ou filhos casados, onde se encarregam da administração da casa e educação das crianças, contribuindo, inclusive, para as finanças domésticas com seus parcos recursos de aposentadorias e pensões.

A terceira idade está sendo difícil para as mulheres. Mulheres e homens idosos têm vidas diferentes. As mulheres, quando ficam viúvas, raramente recasam. Os homens seguem o outro caminho. Dos casamentos de pessoas viúvas de todas as idades realizados no Brasil, 62% são de viúvos e apenas 38% de viúvas. No grupo de pessoas mais velhas (65 anos e mais), 84% dos casamentos são de viúvos e 16% são de viúvas. Os homens não conseguem viver sós; as mulheres conseguem, mas amargam a solidão. No Brasil, há cerca de 2 milhões de mulheres idosas vivendo só, na maioria viúvas.

Em suma, a educação e o trabalho têm funcionado como meios de emancipação da mulher. Mas seu estilo de vida é muito duro. A mulher acumula responsabilidades até depois de velha e corre o risco de acabar a vida sozinha. É irônico: ela que cuida de todos não tem quem cuide dela quando mais precisa de ajuda e carinho. Nesse sentido, somos forçados a concluir que as desigualdades continuam. A sociedade moderna terá de inovar muito em matéria institucional para dar a mulher a mesma condição do homem.