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Minuta 05-03-2007 Apresentado no 3º. Fórum Mulheres em Ação, Bolsa de Valores de São Paulo, 6 de março de 2007. RT

A mulher e o trabalho

José patore

O World Economic Forum (WEF) vem trabalhando há vários anos no campo das desigualdades sociais em, especial, na produção do índice de desigualdade por gênero.

Estudando 115 países, o WEF calculou o referido índice para o ano de 2006. Trata-se de um trabalho baseado em metodologia robusta e dados bem apurados. O foco da análise é no aumento ou redução do hiato entre homens e mulheres nos campos econômico, educacional, político e sanitário. O trabalho apresenta uma hierarquia dos países segundo os hiatos encontrados. Ao focalizar os hiatos, o índice penaliza ou gratifica, por exemplo, de acordo com o hiato educacional existente entre homens e mulheres e não comparando a situação da mulher consigo mesma ou com médias educacionais do país. Essa lógica é utilizada nos quatro campos acima indicados (economia, educação, política e saúde).

Com base nessa metodologia, o Brasil ocupou a 67ª. posição entre os 115 países estudados. Trata-se de uma posição pouco confortável para um país tão grande e tão rico.

No âmbito da América Latina, o Brasil está bem abaixo de muitos países que apresentam populações e PIBs bem menores como é o caso do Uruguai (66), Paraguai (64), Nicarágua (62), Peru (60), Republica Dominicana (59), Venezuela (57), Trinidad e Tobago (45), Argentina (41), El Salvador (39), Panamá (30), Costa Rica (29), Jamaica (24) e Colômbia (21). O Brasil superou apenas o México (75), Chile (78), Equador (82), Bolívia (87) e Guatemala (95).

No rebaixamento do Brasil nessa escala, pesou muito o fraco desempenho escolar e o acanhado papel político das mulheres em relação aos homens.

A baixa qualidade do ensino é um fenômeno bem conhecido no Brasil. Da mesma forma, a pequena participação das mulheres nos altos cargos do governo constitui o fato captado por várias pesquisas.

Entretanto, as pesquisas baseadas em outra metodologia apresentam um desempenho escolar muito mais alto para as mulheres em relação aos homens. E os dados mais recentes das hierarquias das empresas e do governo vêm mostrando uma ascensão das mulheres no Brasil.

Reconhecemos que se trata de um outro tipo de abordagem. Mas, convém apresentar esses dados como um pano de fundo para a análise realizada pelo WEF.

O Trabalho

No Brasil, cerca de 45% das mulheres de 10 anos e mais trabalham ou procuram emprego. Entre as mulheres de 16 a 60 anos, a participação é de 58%. Há trinta anos, era de apenas 39%.

Entre 1996 e 1999, o Brasil perdeu cerca de 1,1 milhão de empregos: 90% eram ocupados por homens e 10% por mulheres. De 2000 a 2005, foram criados cerca de 5,5 milhões de empregos, sendo 41% para as mulheres - uma parcela substancial.

A cada dez anos, a participação feminina aumenta 15 pontos percentuais. O aumento se dá em todas as idades, inclusive entre as mais velhas. Em 1970, a proporção de mulheres de 50 a 59 anos que trabalhavam era de apenas 15,4%; em 2002 foi de 50,1%. Entre as que tinham 60 anos ou mais, a proporção saltou de 7,9% para 19,7%, grande parte aposentadas.

A responsabilidade familiar da mulher também aumentou. Cerca de 30% das que trabalham são responsáveis pelo domicílio. Dentre elas, 50% moram só com os filhos, sem cônjuge. É uma carga pesada.

O crescimento da participação feminina está ligado às transformações na estrutura das ocupações, à melhoria da educação das mulheres e aos salários mais baixos.

O encolhimento da indústria e a explosão do comércio e serviços, instigou uma ampliação de profissões que se adaptaram à capacitação das mulheres tais como as atividades de escritório, educação, saúde, hotelaria e restaurantes, comércio por conta própria, serviços pessoais, informática, comunicações, bancos, seguros, artesanato, esportes, recreação e trabalho doméstico. Além disso, o mundo empresarial expandiu atividades que contém valores bem cultivados pelas mulheres: projetos sociais, arte, cultura e humanização do trabalho.

Desempenho educacional

Ao lado dessas transformações, a mulher ganhou precisão e eficiência no trabalho. Em média, o seu nível educacional é 37% mais alto do que o dos homens. Muitas profissões que eram tipicamente masculinas são dominadas por mulheres como é o caso dos médicos, advogados, dentistas, arquitetos, juizes, jornalistas, servidores públicos e outras do campo técnico e universitário.

A mulher tem respondido ás exigências crescentes do mercado de trabalho em quase todos os níveis. Em 2002, apenas 9,3% das empregadas domésticas tinham curso médio ou mais. Em 2006, a proporção saltou para 14,2%. Pode-se dizer que isso reflete a falta de empregos para as moças mais educadas, o que não está descartado. Mas, o incremento na remuneração dessas empregadas indica que as famílias demandam pessoas com mais preparação para cuidar da casa e das crianças.

Renda

Quanto à renda, para as mesmas profissões e níveis educacionais, as mulheres ganham cerca de 30% a menos do que os homens. Esse hiato já foi maior no passado e, ano a ano, vem diminuindo, da mesma maneira que o acesso das mulheres às posições de chefia, gerencia e diretoria vem aumentando.

Nas áreas das artes, comunicação, tecnologia da informação, e no setor público em geral, a ascensão é mais rápida. Mesmo nos altos níveis da administração governamental, a participação tem se ampliado, onde gozam de boa reputação. Tanto que 61% dos homens brasileiros acham que com mais mulheres nos cargos públicos, o governo seria bem melhor.

Mulheres em ascensão

As mulheres avançaram também no campo do empreendedorismo. Cerca de 38% das pequenas e microempresas do Brasil são iniciadas por mulheres. A média mundial, estimada pela London School of Economics, é de 30%. É verdade que grande parte dessas empresas são informais, onde as condições são precárias. Aliás, mesmo como assalariadas, a maioria das mulheres trabalha na informalidade.

Desigualdades no lar

Além das diferenças de renda, as mulheres enfrentam uma situação desfavorável na divisão de tarefas domésticas. Os dados indicam que os maridos brasileiros dedicam, em média, apenas 0,7 hora do seu dia para o trabalho do lar. As mulheres que trabalham fora de casa põem quatro horas diárias. Elas seriam mais felizes se os seus maridos fizessem como os dinamarqueses que dedicam 3,2 horas por dia.

Conclusão

Mesmo reconhecendo as diferenças de metodologia, os dados disponíveis indicam que a mulher brasileira conquistou um amplo espaço no mercado de trabalho nos últimos 30 anos, mostrando ter garra, competência e o vírus da curiosidade. Nesse período, a sua situação educacional e de renda melhorou e a sua contribuição para o crescimento econômico foi decisiva. Os problemas caem na casa das desigualdades de gênero e terão de ser resolvidos, em grande parte, por ampliação do emprego e novas posturas dos homens.