Sexta 2 de agosto de 2019
O emprego e o acordo UE-Mercosul
José Pastore
O Acordo União Europeia-Mercosul busca alavancar substancialmente as exportações
entre os dois blocos. A estimulação de novos fluxos de comércio deve induzir a geração
de novos postos de trabalho. Hoje, as exportações sustentam cerca de 850 mil empregos
na União Europeia e 440 mil no Brasil. Isso tem chance de aumentar bastante. No caso
do Brasil, a liberalização das exportações forçará as empresas a ganhar produtividade e
competitividade. Mas, é claro, nada disso é automático. Para chegar lá, será necessário
reduzir drasticamente o custo Brasil e eliminar inúmeros protecionismos que conspiram
contra os ganhos de eficiência na produção da indústria, do comércio e dos serviços.
Trata-se de um caminho longo e cheio de desafios.
Além dos seus impactos macroeconômicos, o Acordo UE-Mercosul tem o potencial
para atrelar o Brasil a novo contexto geopolítico. Há vários meses, os países europeus
vêm se movimentando para fazer acertos comerciais com a China, mesmo porque os
chineses se tornaram particularmente interessados em expandir suas exportações para a
União Europeia. Na expectativa de que esse relacionamento venha a avançar, há grande
chance de surgir um triângulo na geopolítica mundial: China — União Europeia —
Mercosul. A demanda chinesa por produtos em que o Brasil tem vantagem comparativa
é enorme e tende a aumentar mais como a de grãos e de proteína animal.
O que mais pesará na geração de emprego e trabalho futuros será, sem dúvida, a pressão
por ganhos de eficiência da indústria, do comércio e dos serviços do Brasil que, até
aqui, estiveram anestesiados pelo protecionismo que sempre dominou a economia
brasileira. O setor do agronegócio está mais adiantado nesse campo, pois, há vários
anos, vem conquistando recordes de produtividade e reconhecimento mundial. Mas ele
pode avançar ainda mais, na medida em que os gargalos logísticos forem atacados, tais
como, a melhoria das estradas, da armazenagem, dos portos e dos aeroportos.
Tudo isso demandará agilidade do governo para acelerar as concessões de obras de
infraestrutura onde há enorme interesse dos investidores nacionais e estrangeiros. O
Acordo UE-Mercosul exercerá saudável pressão para o governo reduzir a burocracia,
simplificar os impostos, melhorar a segurança jurídica e, com isso, atrair investimentos
para criar oportunidades de emprego e trabalho.
Os ganhos de eficiência e o impacto sobre o emprego e trabalho serão graduais, pois
assim será a redução de tarifas. Mas eles podem ser acelerados pela chegada de
empresários estrangeiros que para cá trarão novas tecnologias da Europa. Do lado das
empresas brasileiras, sobreviverão e crescerão as que, de fato, concentrarem esforços na
melhoria da produtividade e da competitividade.
Ou seja, o Acordo UE-Mercosul submeterá a economia brasileira a dois fortes choques:
um interno (redução do Custo Brasil) e outro externo (demanda de um mercado
exigente). Essas forças ajudarão o Brasil a entrar na rota do crescimento econômico
sustentável, capaz de gerar poupança voltada para os investimentos produtivos e
facilitar a criação de emprego e trabalho.