Sexta 5 de julho de 2019
Desemprego como superar?
José Pastore
O Brasil passou por momentos bastante difíceis no campo do trabalho. Mas o
desemprego atual está sendo dolorosamente profundo e alongado. Nos anos 2003-2004,
a taxa de desemprego chegou a 12%, mas em 2005 baixou para 9,5% e em 2007 recuou
para 7,5%. No final de 2008, passou para 6,8% e no final dos anos 2010-2011 ficou ao
redor de 5%.
No caso atual, o desemprego saltou repentinamente para cerca de 10% em 2015,
chegando a 12% no final de 2016 e ali ficando até hoje. Para os jovens, a taxa é de27%!
São mais de 13 milhões de brasileiros desempregados e de 15 milhões de desalentados e
de subutilizados.
O sofrimento das famílias é intenso. Muitas devolveram suas casas por incapacidade de
pagamento. Outras retiraram seus filhos das escolas particulares. Mais de três milhões
cancelaram seus planos de saúde. Além da destituição material, essas famílias estão
perdendo a fé e a esperança no futuro. Cerca de 30% dos desempregados estão nessa
situação há mais de dois anos. Esses são, sem dúvida, os problemas mais devastadores
da população brasileira.
A causa básica desse quadro dramático é o baixo crescimento econômico e a falta de
investimentos produtivos. O PIB baixou de 7,5% em 2010 para-3,5% em dois anos
seguidos (2015-2016), ficando em apenas 1% em 2017 e 1,1% em 2018. Para 2019,
amargaremos 0,90% ou menos. A taxa de investimentos que era de 23% do PIB nos
anos 1990 baixou para 15% nos dias atuais. Nos últimos cinco anos, os investimentos
públicos minguaram de 2,7% para 1,2% do PIB. Irrisório! Não há como criar emprego
nessas condições.
O Brasil tem fôlego para crescer 4% ou 5% ao ano? Há controvérsias. Muitos analistas
dizem que, uma vez realizadas as reformas anunciadas, elas trarão de volta o ânimo que
os investidores precisam para tirar seus projetos das gavetas e gerar empregos. Outros
alertam que o Brasil não conseguirá crescer mais de 2% ou 2,5% ao ano por falta de
energia, estradas, portos, aeroportos, armazenagem e sistemas modernos de
comunicação e educação de boa qualidade.
Vejo o quadro com mais esperança. A própria reconstrução da infraestrutura pode se
tornar a principal usina de empregos no processo de retomada, pois esse setor tem uma
cadeia produtiva muito longa. O efeito multiplicador da construção de uma usina
elétrica, de uma rodovia ou da remodelação dos portos, por exemplo, instiga a produção
de materiais para as obras assim como os setores siderúrgico, metalúrgico, elétrico,
químico e muitos ramos do comércio e serviços. Ou seja, a reconstrução da nossa
infraestrutura pode ser o carro chefe da retomada do emprego.
Para a referida reconstrução serão indispensáveis os investimentos privados. Mas, para
tanto, não bastam as reformas anunciadas. A confiança surgirá de várias lições de casa a
serem feitas pelo próprio governo: desburocratização, simplificação da regulação,
redução de impostos etc.—providências que não exigem recursos e sim decisão de
fazer.