Sexta feira 7 de junho de 2019
Apoio aos desalentos
José Pastore
São quase 5 milhões os brasileiros que perderam a esperança de conseguir emprego.
Cerca de 20% estão nessa situação mais de dois anos. Além de perderem a renda,
essas pessoas estão desanimadas, frustradas e deprimidas.
A causa do problema não está nelas, mas na economia do país, que não consegue gerar
oportunidades de trabalho para atender a sua gente. É isso mesmo: longe de ser um
problema pessoal, o desalento reflete a ausência de investimentos e crescimento
econômico e, em última análise, a falta de confiança no futuro do Brasil. Não é para
menos. Estamos sempre esperando alguma coisa que não acontece. A previsão do PIB
para 2019 era de 3%. Hoje, não passa de 1,5%.
Movidos pela penúria, muitos se dispõem a trabalhar fora de sua profissão e com baixos
salários. Mesmo assim, não conseguem colocação. Outras não têm recursos nem para
procurar emprego. Quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna o desafio dos
desempregados, porque eles perdem contatos pessoais e habilidades profissionais.
É neste campo que eles precisam ter apoio. Programas de treinamento e reciclagem são
cruciais para os desempregados preservarem o que sabem e aprenderem o que não
sabem.
Isso faz parte das políticas ativas de emprego em contraste com o seguro-desemprego,
que integra as políticas passivas.
É verdade que o acesso a treinamentos e retreinamentos é difícil. Mas, graças aos
avanços das tecnologias digitais, muitos cursos passaram a ser oferecidos pela internet
gratuitamente. Cito aqui o site http://www.meuemprego.sp.gov.br, que oferece vários
sem custo. Uma pesquisa rápida na rede de computadores indicará vários outros do
mesmo tipo.
O drama do desemprego e o sofrimento dos desalentados exigem que se instale no
Brasil uma grande cruzada com ampla divulgação e destinada a treinar e retreinar os
desempregados. Órgãos do governo, escolas particulares, entidades do Sistema S e as
próprias empresas são integrantes naturais desse movimento.
Neste momento, as políticas ativas se tonam muito mais importantes do que as passivas.
O seguro-desemprego tem vida curta (4-6 meses) e em nada ajuda na manutenção do
capital humano das pessoas e do próprio país. Os cursos e os treinamentos, esses sim,
facilitam o reingresso no mundo do trabalho quando a atividade econômica voltar a se
acelerar.
O Brasil já teve um mecanismo que incentivava as empresas a investir de forma
continuada na formação profissional dos empregados (Lei 6.297/75). Atualmente,
vários projetos de lei tramitam no Congresso Nacional com o mesmo propósito. Vale a
pena revisitá-los.
O desemprego demasiadamente prolongado gera graves problemas para o próprio poder
público. Além de sofrer a redução de receitas, o governo tem muitas despesas
aumentadas, especialmente, na área da saúde. As doenças surgem e se agravam entre os
desempregados de longa duração. Pesquisas recentes indicam que 70% dos desalentados
apresentam distúrbios físicos em consequência de angústia, ansiedade, depressão e
alterações do sono. Isso sobrecarrega o Sistema Único de Saúde e força o governo a
despender recursos que não tem.
Os governos federal, estadual e municipal não podem se manter indiferentes aos 28
milhões de brasileiros que vêm sendo afetados pela falta de trabalho. Esta é a hora de
mobilizar as instituições para preservar o mais rico de todos os capitais que o Brasil
possui o conhecimento das pessoas. Programas nesse campo, em especial os
realizados pela via da internet, não são dispendiosos. O que está faltando é mais ação
para ajudar os que mais precisam preservar as habilidades e apreender outras.
José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP