Sexta 3 de maio de 2019
E o emprego quando volta?
José Pastore
É triste verificar que o Brasil possui mais de 28 milhões de pessoas subutilizadas
(PNAD, março de 2019). Enquanto permanecem nesse estado, essas pessoas enfrentam
graves dificuldades para viver, consomem menos e nada (ou pouco) recolhem
contribuições para a Previdência Social e demais impostos. Nos anos de 2015-16, a
recessão destruiu cerca de 2,5 milhões de postos de trabalho. Em 2017, festejou-se a
destruição de apenas 20 mil empregos e em 2018 foram gerados cerca de 600 mil postos
de trabalho formais o que foi muito pouco para compensar o estrago anterior.
O ano de 2019 começou com previsões de crescimento do PIB da ordem de 2,5% e
geração de 800 mil a um milhão de postos de trabalho formais. Mas, os sinais de
otimismo se extinguiram logo. Os analistas vêm refazendo suas previsões dia a dia,
oscilando entre 1% e 1,5% na melhor das hipóteses. Os índices de confiança dos
consumidores e dos empresários estão caindo. A economia não deslanchou. A geração
de empregos vem perdeu fôlego: no primeiro trimestre foram criados cerca de 180 mil
postos de trabalho o que é muito pouco. Em março, houve uma destruição de 43 mil
empregos formais, a maioria no comércio (-29 mil), na agropecuária (-9 mil), na
construção civil (-7,8 mil). Nos serviços, que costuma ser o carro-chefe, a geração de
empregos formais foi pífia (+4,5 mil).
O que dizer da qualidade dos novos empregos? Ao longo do ano de 2018, o emprego
formal contraiu 0,4%, tendo crescido o informal. Isso tudo compromete a geração de
uma massa salarial vigorosa, que é a chave para aumentar o consumo, ativar as
empresas e gerar novas oportunidades de trabalho.
O desemprego se mantém alto (12,7%) e persistente para todos os grupos sociais, em
especial, para os jovens que amargam uma taxa de desocupação de 27%. Dentre os mais
velhos, 26% estão desempregados há mais de dois anos.
Vários estudos mostram que o crescimento do emprego depende fundamentalmente do
crescimento econômico. As previsões dos analistas indicam que a taxa de desemprego
cairá de forma muito lenta no médio prazo. No cenário otimista, onde o país cresce
2,5% ao ano, o desemprego cairia dos 12,4% (registrados em fevereiro) para 11,8% até
o final de 2020. No cenário pessimista, em que o Brasil cresce 1,5% ao ano, o
desemprego ficaria em torno de 12,2%. Isso significa que o Brasil pode levar 10 anos
para voltar ao desemprego pré-crise de 2014 quando a taxa foi de 4,8%. Esse tempo
poderá ser reduzido para cinco anos se o país voltar a crescer 4% ao ano.
No momento, as incertezas no campo político vêm inibindo o “espírito animal” dos
empresários nacionais e estrangeiros para investir no Brasil. E sem investimentos, será
impossível gerar empregos. Para a criação de grande quantidade de empregos e demais
oportunidades de trabalho será fundamental a realização de grandes obras de
infraestrutura, construções residenciais, armazéns, hospitais, indústrias, agronegócios,
etc. Mesmo em um cenário bastante otimista em que as referidas incertezas se dissipem
ao longo de 2019, os investidores começarão a construir novas obras e implantar os
novos projetos em 2020. Ou seja, o Brasil só poderá contar com boa oferta de empregos
no médio prazo (2020-25).
Em resumo, os próximos anos serão ainda marcados por forte desemprego e desajustes
funcionais entre a nova demanda e a atual oferta de trabalhadores no mercado de
trabalho do Brasil. Tais desafios não se resolvem com a pretendida mudança na
metodologia de aferição do desemprego do IBGE como pretende o Presidente Jair
Bolsonaro. Gostaria de dizer o contrário, mas parece inevitável o fato de o Brasil
conviver com altas taxas de desemprego por mais dois ou três.
José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP