Sexta 5 de abril de 2019
Formação profissional, emprego e produtividade
José Pastore
Fiquei animado ao ver o governo incluir a formação profissional e o incentivo às
inovações da economia 4.0 no pacote de medidas para destravar a economia e gerar
emprego anunciado pelo Ministério da Economia. Nunca é demais enfatizar a
importância da formação profissional na elevação da produtividade da economia
brasileira. Paul Krugman, Prêmio Nobel de economia (2008) diz que, “para o
crescimento econômico, a produtividade não é tudo, mas é quase tudo”. É razoável
dizer-se que, para a produtividade, a formação profissional não é tudo, mas é quase
tudo.
A produtividade no Brasil está estagnada vários anos. Costumo dizer que a curva
horizontal e estável da produtividade brasileira se assemelha a um eletrocardiograma de
morto. Jorge Arbache indica que, entre 1980 e 2013, a produtividade dos chineses
cresceu quase 900% enquanto que a dos brasileiros aumentou apenas 6%. Uma das
principais causas é a baixa qualidade da educação.
Mesmo nos dias atuais em que se amarga uma taxa de desemprego de mais de 12%,
muitas empresas encontram dificuldades para contratar profissionais capazes de atender
as suas necessidades. Para ter competência profissional, não basta entrar na escola. É
preciso apreender. E o aprendizado depende do aluno, da qualidade das escolas e de
bons professores. Dados do Ministério da Economia indicam que dos jovens que
passaram pelos cursos de formação profissional promovidos pelo então Ministério do
Trabalho, apenas um conseguiu emprego triste.
Bem diferente, felizmente, são os dados das escolas do Senac, Senai e de outras do
Sistema S, nas quais mais de 50% dos egressos conseguem trabalho rapidamente.
Seus rendimentos são, em média, 37% mais altos do que os dos que não passaram por
cursos de formação profissional. É claro: as empresas pagam mais, porque a sua
produtividade é mais alta. Isso aumenta sua competitividade, suas vendas e seus
investimentos que, em última análise, criam empregos.
Por isso, a iniciativa do governo em apoiar a formação profissional tem de ser
aplaudida. O mesmo vale para os incentivos à expansão da economia 4.0. A adoção das
novas tecnologias é uma necessidade para as empresas brasileiras poderem reduzir
custos para os produtores e preços para os consumidores além de melhorar a
qualidade dos bens e serviços. Os técnicos do Ministério da Economia sabem que a
modernização tecnológica demanda qualificação e requalificação constantes. Daí o
acertado acoplamento da economia 4.0 com os programas de formação profissional.
Além das habilidades cognitivas, a economia 4.0 exige um bom domínio das
habilidades socioemocionais liderança, facilidade de comunicação, capacidade para
trabalhar em grupo e cultivo da ética no trabalho. Nas minhas andanças pelas escolas de
formação profissional ao longo de 50 anos de pesquisa observei um cultivo deliberado
desses valores nas escolas do Sistema S. Penso ser isso reflexo das atitudes e condutas
dos empresários que administram tais escolas. É isso mesmo. Nunca vi uma empresa
bem-sucedida, onde sujeira, desleixo, indisciplina, desrespeito e maus-tratos de
trabalhadores. Isso faz parte da boa formação profissional e é especialmente relevante
na formação dos jovens millennials que valorizam uma boa qualidade de vida, um
relacionamento prazeroso e um elevado respeito humano nos ambientes de trabalho.
Formação profissional envolve tudo isso. Penso que os empresários devem apoiar e
colaborar com o governo nessa importante cruzada de estimular inovações e intensificar
a formação profissional para destravar a economia, estimular investimentos e começar a
gerar empregos em grande quantidade.
José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP