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O ESTADO DE S. PAULO
26 de abril de 2018
O robô será complacente com seu emprego?
José Pastore
Em boa hora a Fecomercio-SP organizou para amanhã (entrada franca) um seminário
internacional para examinar em profundidade os impactos das novas tecnologias sobre
o trabalho. O assunto preocupa. Os pais perguntam ansiosamente: o que será do futuro
do meu filho num mundo em que robôs, inteligência artificial, impressão 3D, etc.,
destroem empregos a cada dia?
Sem dúvida, muitas atividades humanas serão substituídas por tecnologia. Mas nem
todas. Os robôs têm reconhecida dificuldade para se relacionar com pessoas, escrever
um parágrafo persuasivo, formular uma hipótese e interpretar Beethoven ou
Shakespeare. Mesmo nas atividades mais simples as suas limitações são grandes, como,
por exemplo, colocar cordões nos sapatos e maquiar os artistas.
Apesar do esforço dos engenheiros para criar máquinas que sentem e apreendem, por
muito tempo haverá trabalho para quem se dedica às atividades que exigem emoção,
carinho, afeição, simpatia, criatividade, coragem, empatia, raciocínio indutivo e
compreensão verbal.
Os analistas lembram também que os países que mais usam tecnologia Estados
Unidos, Alemanha, Japão, etc. apresentam um baixo nível de desemprego. Neles, a
esmagadora maioria da população está trabalhando, embora, é verdade, as tecnologias
têm provocado desigualdades de renda.
ainda os que enfatizam as oportunidades de trabalho geradas pelas próprias
tecnologias. Basta lembrar as novas profissões que têm surgido no campo da saúde,
segurança, comunicação, lazer, entretenimento e as que lidam com os novos
equipamentos e sistemas.
Mas, no final das contas, haverá mais destruição ou criação de oportunidades de
trabalho?
Teoricamente, as tecnologias elevam a produtividade, aumentam os lucros, estimulam
os investimentos e geram mais oportunidades de trabalho, o que por sua vez aumenta o
consumo e ativa a economia. Mas o nexo entre tecnologia e trabalho não é tão simples.
Para o referido encadeamento ocorrer, são necessárias várias condições. Por exemplo,
em ambientes competitivos, o encadeamento é observado. Mas, em ambientes não
competitivos, as empresas beneficiadas com as tecnologias embolsam o lucro, não
investem e não geram oportunidades de trabalho.
Outra condição importante diz respeito à capacidade de ajuste dos profissionais às
atividades geradas pela modernização tecnológica. Quando a qualidade da educação é
boa, tudo vai bem. Quando é precária, o ajuste é difícil e doloroso, deixando muitas
pessoas sem trabalhar e sem renda.
Finalmente, a geração de novas oportunidades de trabalho depende muito das regras
trabalhistas. Quando elas são claras e seguras, novas formas de trabalhar surgem ao
lado do emprego convencional. Mas, quando são obscuras e inseguras, as empresas
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aceleram a substituição de mão de obra por máquinas e, muitas vezes, mudam de país,
deixando para trás o rastro do desemprego.
A OIT acha possível chegar-se a uma era dourada de geração de empregos desde que
sejam renovadas as regras de contratação de trabalho e melhorada a qualidade da
educação dos países em desenvolvimento (New technologies: a jobless future or golden
age of job creation, Genebra: International Labor Organization, 2016). Esse é um
desafio gigantesco para o Brasil, que precisa continuar modernizando a sua legislação
trabalhista-previdenciária e elevando substancialmente a qualidade do ensino em todos
os níveis. O que os presidenciáveis pensam sobre isso?
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, PRESIDENTE DO CONSELHO DE
EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIO-SP E MEMBRO DA ACADEMIA
PAULISTA DE LETRAS,