O ESTADO DE S. PAULO
26 de julho de 2017
Tecnologia e emprego no comércio
José Pastore
Nos últimos anos, comércio e serviços têm sido os setores que mais geraram empregos.
No Brasil, eles respondem por 75% da mão de obra ocupada. São também os setores
que possuem a mais variada composição de qualificações, indo desde os profissionais
altamente especializados, como no caso dos bancos, seguradoras, pesquisa, saúde e
educação, até os menos qualificados, como é o caso do pessoal auxiliar em lojas,
restaurantes e hotéis, atividades de asseio e conservação, segurança e outros.
A entrada maciça do comércio eletrônico está revolucionando o modo de os
consumidores comprarem, provocando o fechamento das lojas tradicionais. Só no
primeiro semestre de 2017 foram eliminados mais de 100 mil postos de trabalho no
comércio nos Estados Unidos. Grandes redes de lojas estão fechando por falta de
demanda, na medida em que os consumidores vão preferindo a internet. Sessenta e
cinco por cento dos livros são comprados dessa forma; o mesmo ocorre com 45% do
material de escritório, 40% dos brinquedos e 30% dos eletrônicos. Nos supermercados,
cresce o número de lojas sem profissionais no caixa – os consumidores entram, fazem
as compras e registram o gasto no leitor ótico com seu telefone celular.
O encolhimento do emprego nesse setor é uma realidade mundial. Para cada emprego
que se abre no comércio eletrônico, há três que são eliminados nos estabelecimentos
tradicionais. O desemprego tecnológico atinge parcelas estratégicas da força de trabalho
do comércio – mulheres, idosos e pessoas com menor qualificação. Nos Estados
Unidos, projeta-se uma perda de mais de 6 milhões de empregos no setor ao longo dos
próximos cinco anos. O fenômeno avança em praticamente todos os países, pondo em
risco os atuais 200 milhões de empregos das lojas de varejo.
O mesmo ocorre no setor de restaurantes e hotelaria. É cada vez maior o número de
restaurantes que usam novas tecnologias para servir ou entregar refeições. A rede
McDonald’s acaba de instalar 14 mil quiosques de autoatendimento nos Estados
Unidos, poupando os atendentes de balcão. E tem planos para crescer. A Amazon
iniciou um serviço de entrega de refeições, substituindo os garçons. No campo da
hotelaria, cresce o número de hotéis onde a entrada e a saída dos hóspedes são feitas em
máquinas eletrônicas e a limpeza dos quartos, realizada por robôs.
O Brasil não está isento dos impactos dessas mudanças. Em relatório recém-publicado,
a Consultoria McKinsey estima que cerca de 50% dos atuais postos de trabalho no
Brasil poderão ser automatizados em um período de 10 a 15 anos. Esse é, sem dúvida, o
maior desafio para os formuladores de políticas públicas, que têm de atenuar os efeitos
deletérios do avanço tecnológico.
Ocorre que faltam métodos seguros para fazer previsões nesse campo. É por isso que
alguns pesquisadores estão propondo a construção de índices de automação e,
sobretudo, de uso de inteligência artificial (Erik Brymjolfsson e Tom Mitchel,
“Tracking how technology is transforming work”, Revista Nature, abril de 2017). São