Publicado em Correio Braziliense, 05/07/2015.
A trajetória do emprego e desemprego
Enquanto a economia americana gerou 280 mil novos empregos só em maio passado, a brasileira destruiu 115 mil postos de trabalho. Nos últimos doze meses, perdemos quase meio milhão de empregos formais, sem falar no agravamento acelerado da informalidade.
A combinação do encolhimento da oferta de empregos com o aumento da procura por trabalho deu como resultado uma forte elevação da taxa de desemprego que, nos dados da PNAD de abril de 2015, chegou a 8% da força de trabalho.
As pesquisas de opinião pública mostram que o desemprego é a maior preocupação da população nos dias atuais. A procura por empregos deve se intensificar não apenas entre os que estão desempregados, mas também entre os que, entre 2011-14, se retiraram do mercado de trabalho para estudar ou usufruir os benefícios dos programas sociais. O desemprego já atingiu suas famílias que, agravado pela alta da inflação, reduziu o poder de compra dos seus membros. Para eles, é imperioso que mais pessoas trabalhem e ganhem o necessário para o sustento familiar.
Apesar da gravidade do quadro instalado, lamento dizer que ainda não chegamos ao fundo do poço porque as empresas que estão mantendo os quadros atuais e evitando demissões adicionais estão no seu limite de tolerância.
As montadoras de veículos paralisaram metade das fábricas em todo o Brasil porque não têm para quem vender. Muitas já pararam de produzir. As que ainda operam, mantêm jornadas reduzidas, concedem férias coletivas, colocam seus empregados em lay off - tudo para evitar mais demissões. Esse quadro já domina várias cidades do interior, até então blindadas contra demissões. Para comprovar a gravidade da situação aumentam a cada dia os casos de redução de salários pela via da negociação coletiva.
Com a ameaça da reoneração da folha de pagamentos, outros setores ameaçam demitir empregados como é o caso, por exemplo, da construção civil, máquinas e equipamentos e tecnologia da informação. Tais setores são intensivos em mão de obra e vinham mantendo seus quadros com a ajuda de um alivio nos encargos sociais proporcionado pela desoneração da folha, pois, para eles também a demanda pelo seu produto diminuiu bastante.
No caso de São Paulo, as indústrias contempladas pela desoneração da folha de pagamentos respondem por 54% do emprego do setor industrial. Segundo a FIESP, essas empresas pretendem demitir empregados no caso de uma reoneração da folha.
Nos setores do comercio e serviços o impacto da reoneração poderá provocar o mesmo efeito. Aliás, o comercio varejista que, até aqui se manteve como empregador liquido, está congelando as contratações devido à queda de vendas e de margem de lucro.
Para os analistas do mercado de trabalho preocupa também a situação dos investimentos públicos que já tiveram uma retração de 40% em 2015, atingindo áreas importantes para o emprego como, por exemplo, infra-estrutura, habitação, educação, saúde e outros. A isso se soma a forte alta dos juros e a aceleração da inflação.
Não há dúvida que 2015 terminará com um quadro muito grave no campo do emprego e desemprego. Muitos atribuem tudo isso ao programa de ajuste fiscal. Mas, convenhamos, com o descontrole dos gastos públicos que dominou o Brasil nos últimos cinco anos, o quadro não poderia ser diferente. Acabaram-se os sonhos de consumo elevado e desemprego em baixa. Agora, o que nos resta é buscar medidas compensatórias para aliviar os danos do desemprego - como é a proposta do seguro-emprego ora em discussão - e tudo fazer para se reequilibrar as finanças públicas a fim de trazer de volta as condições e o animo para investir e gerar empregos.
Quando isso acontecerá? É difícil precisar uma data. Mas, se o ajuste der os resultados esperados, muito provavelmente teremos os primeiros sinais de uma retomada da confiança e dos investimentos a partir do segundo semestre de 2016. Dali para frente, o Brasil pode ter chances de voltar a atrair os capitais externos para ajudar o capital nacional a reanimar a nossa economia. Afinal, quando se considera o que há por fazer em nosso país, o Brasil se destaca como uma grande oportunidade para investir, podendo se tornar uma salutar usina de empregos para o seu povo.
José Pastore é professor de relações do trabalho da Universidade de São Paulo, Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho e membro da Academia Paulista de Letras.
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