Publicado em o O Estado de São Paulo, 04/08/2009.
Emprego: uma visão de médio prazo.
O emprego de amanhã resulta do investimento de hoje. É acaciano. O que dizer, então, sobre os próximos anos?
Por que essa pergunta se as taxas de desemprego caem, o emprego formal aumenta, os juros se reduzem e a bolsa de valores sobe? Porque a avassaladora propaganda do governo federal induz a imprensa nacional e internacional a criar um clima de já ganhou no qual o Brasil virou a mais apetitosa bola da vez.
É certo que há números melhores agora do que no inicio do ano. Mas, não se pode omitir que uma parte expressiva da queda do desemprego se deve ao aumento do número de pessoas que – desalentadas – desistiram de procurar emprego, o que rebaixa a taxa de desemprego.
Não é para menos. No primeiro semestre de 2009 o Brasil gerou menos de um terço dos empregos formais gerados em igual período em 2008 e menos de um quinto do necessário. Mais. Dentre os empregos gerados, a maioria é de péssima qualidade, com salários baixíssimos.
E daqui para frente? Para 2009, a estimativa da CNI indica uma redução de 9% dos investimentos produtivos. O grosso do capital estrangeiro continua indo para títulos públicos e rápidas incursões especulativas na Bolsa de Valores – e não para a produção de longo prazo. Pior. A avalanche de dólares transformou-se num golpe de morte para os exportadores.
Se nada mudar, das exportações não surgirão os empregos que precisaremos nas próximas décadas. Dentro dos BRICs, corremos o risco da China ficar com a indústria; a Índia com os serviços; a Rússia com o petróleo; e o Brasil com os alimentos.
Reconheço o exagero dessa simplificação. Mas, a indústria manufatureira, que gera a maior parte dos bons empregos, está perdendo espaço no comércio internacional. Em 2009, a exportação de manufaturados já caiu 31%. A competitividade das empresas está severamente comprometida pelo cambio deprimido, pelos tributos excessivos, pela rigidez trabalhista e pela burocracia que já feriu até mesmo as obras do PAC. Se essas coisas não mudarem, não há como contar com bons empregos nos próximos anos.
Os investimentos do governo continuam anêmicos. O setor público brasileiro está investindo irrisórios 1,69% do PIB. Somos o penúltimo colocado dentre 135 países. Vergonhoso. Na Índia, são 7,5% do PIB. Na Malásia, 10%. Na China, 21%! Na próxima década assistiremos, entristecidos, os festejos daqueles países na geração de empregos.
Até quando há dinheiro, o governo investe pouco e mal. No primeiro semestre, o Ministério do Transporte investiu apenas 14% dos recursos aprovados para 2009. O de Minas e Energia, menos de 6%. Há outros ministérios em situação semelhante (Rolf Kuntz, "Cascatas federais", O Estado de S. Paulo, 09/07/2009).
No primeiro semestre de 2009, os investimentos públicos aumentaram R$ 4,9 bilhões. Mas, os gastos correntes subiram R$ 63,7 bilhões. A folha de salários vem aumentando R$ 2,2 bilhões por mês.
É claro que todos os brasileiros querem servidores eficientes, atenciosos e valorizados. Mas, a valorização não precisa ir além do que se faz no setor privado. De dezembro de 2002 a fevereiro de 2009, os salários dos funcionários públicos federais aumentaram, em média, 75% em termos reais, enquanto que os do setor privado subiram, em média, 9%. Não é dessa forma que vamos gerar empregos.
A assistência social também mascara o desemprego. Dentre os 53 milhões de beneficiários do Bolsa Família há pessoas que rejeitam ofertas de empregos formais. Outras, apesar de fazerem bicos, não declaram que trabalham para não perderem o benefício do programa. Tecnicamente, estão fora da força de trabalho, o que compromete a precisão das taxas de desemprego.
A máquina do governo e os programas sociais devem continuar consumindo o que, pelo menos em parte, deveria ser destinado para criar mais empregos. E o Ministro Paulo Bernardo já avisou que "essa ladainha de corte de despesas não serve para o Brasil. É um discurso surrado. Está vencido". A gastança vai continuar.
É intrigante. Será que o Brasil é o único certo e o mundo está errado? Será correto festejar hoje exatamente o que está comprometendo o emprego de amanhã? Penso que não. A busca de votos tem um limite. Não se pode enganar os eleitores com interpretações viesadas e dados distorcidos. |