Publicado no O Estado de S. Paulo, 13/05/2008
Os empregos em TI
Em boa hora o governo incluiu o setor da tecnologia de informações (TI) na nova política industrial. Mas ainda falta muito para o Brasil tirar pleno proveito nesse campo.
O setor de TI é uma preciosa fonte de bons empregos. O mercado global é de US$ 1,3 trilhão por ano. Nos dias de hoje, nada se faz sem informações eletrônicas. TI tornou-se uma infra-estrutura básica para a economia atual.
Cerca de US$ 600 bilhões em serviços são contratados fora das empresas (outsourcing) e US$ 60 bilhões fora dos países (offshoring). Estes chegarão a US$ 110 bilhões em 2010 e US$ 300 bilhões em 2015.
As atividades offshoring beneficiam-se das diferenças de fusos horários; o produto não precisa ser transportado por avião ou navio; não passa por alfândegas; nem enfrenta o cipoal das burocracias de governo.
A Índia explora bem suas vantagens comparativas, faturando US$ 30 bilhões por ano. A população é razoavelmente educada, fala inglês e trabalha por baixos salários e reduzidos encargos sociais.
Como os usuários de serviços de TI estão buscando alternativas (para evitar concentração), o Brasil poderia se beneficiar de um fuso horário similar aos dos grandes mercados compradores; da boa experiência com informatização bancária; com eleições informatizadas; e com o crescente relacionamento com o governo via Internet.
Com todas essas vantagens, estamos na rabeira. O Brasil fatura apenas US$ 800 milhões por ano em TI. Isso não é nada diante de suas potencialidades. O que está faltando?
Tecnologia de informação se resume em gente bem educada. Não temos uma massa crítica para atender a demanda atual e, muito menos a futura. Segundo estimativas do setor, o mercado nacional de TI precisará contratar 320 mil profissionais até 2011 enquanto nossas faculdades formarão apenas 170 mil pessoas.
Além de conhecimentos técnicos, tais profissionais precisam ser fluentes em inglês. Oitenta por cento de toda informação eletronicamente arquivada no mundo está na língua inglesa. Os grandes contratantes operam em inglês. Como está o Brasil nesse campo?
No mundo, cerca de um bilhão de pessoas falam inglês fluentemente. Cerca de 400 mil são nativos. Entre os não nativos, a Ásia lidera com 350 milhões. O Brasil tem apenas 1,3 milhão de pessoas fluentes. Ridículo.
Mesmo com os 320 mil novos profissionais, a participação do Brasil no mercado mundial em 2011 será de, no máximo, 5%. É muito pouco. Poderíamos chegar a 15% ou 20% e, com isso, gerar empregos de boa qualidade, com ótimos salários e bons benefícios.
Pouco se tem feito para reduzir as nossas deficiências educacionais nesse campo. Na Argentina, o programa de capacitação para o setor de TI está em pleno andamento (Plan de Acción 2008-2011, Buenos Aires: Câmara de Empresas de Software). No Brasil, há apenas reuniões e anúncios.
O mesmo ocorre na área trabalhista. Entre nós, as despesas de contratação chegam a 103% do salário. Isso é pesadíssimo para um setor como o de TI em que 70% das despesas são com pessoas.
Com a anunciada desoneração de 50% da contribuição do INSS, deu-se um passo na direção necessária. Mas, estamos longe de vencer a guerra fiscal mundial. Na Argentina o trabalho em TI custa 50% do brasileiro. Na Índia, as despesas de contratação são apenas 12% do salário. Em Dubai, há incentivos enormes para o trabalho em TI. É duro competir com esses países.
Esse não é o único problema na área trabalhista. O Brasil precisa aprovar uma lei que discipline a terceirização. Na área de TI isso é essencial porque as tarefas são fragmentadas, realizadas em rede, por um conjunto de profissionais e empresas diferentes, muitas vezes, de forma intermitente, por projeto, na base do tele-trabalho, etc.
A restrição da Sumula 331 do TST que permite terceirizar apenas atividades meio é um entrave mortal para o setor. Para os concorrentes do exterior, essa restrição não existe.
A lei de terceirização terá de garantir segurança jurídica às empresas e proteções adequadas aos trabalhadores.
Ou seja, investir em boa educação, reduzir as despesas de contratação e disciplinar a terceirização são medidas faltantes para sairmos dos sonhos e usufruir os milhares de empregos que estão à espera dos jovens na área de TI. Que o passo dado agora seja o primeiro de uma série.
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