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Publicado no Jornal da Tarde, 12/12/2001

O emprego no mundo

Com a presença de Kofi Annan, Secretário Geral da ONU, vários primeiro-ministros, diplomatas e economistas, inclusive portadores de Prêmio Nobel, e representantes de trabalhadores, empresários e governos, a Organização Internacional do Trabalho fez realizar em Genebra, no início de novembro de 2001, o Fórum Mundial do Emprego.

A OIT deseja ver a criação de 1 bilhão de postos de trabalho no mundo até o ano 2010. Mais do que isso, o organismo conta com empregos que tratam o ser humano com a devida dignidade e justa remuneração - "o trabalho decente".

Ficou claro que a expansão do emprego nos países pobres depende, em grande parte, da sua capacidade de exportar e do relaxamento das barreiras protecionistas do lado dos países ricos. Os participantes do Fórum passaram a maior parte do tempo se referindo à reunião da Organização Mundial do Comércio que se realizaria, dias depois, em Doha.

Os diplomatas presentes, seguidos pelo Prêmio Nobel de economia em 2001, Joseph Stiglitz, defenderam a teoria de que, em função dos atentados aos Estados Unidos e da guerra contra o terrorismo, os países ricos, teriam se convencido de que a sua segurança interna depende do atendimento das necessidades dos países pobres.

A reunião de Doha deu passos importantes. A duras penas, surgiu um meio compromisso de aliviar o protecionismo agrícola na Europa. Com igual dificuldade, e permeado por uma linguagem circunflexa, a OMC prometeu aos países pobres que vai estudar um melhor acesso aos mercados dos países ricos.

Tais resultados, entretanto, são programáticos. Não houve nenhuma decisão de agir imediatamente. Tudo virá com o tempo. Não se sabe quando e de que forma.

Para os governos dos países ricos, foi difícil assumir os compromissos mais claros em Doha. Mais difícil ainda será cumpri-los. Tanto que os Estados Unidos, 15 dias depois de assinar a Declaração Ministerial da OMC, aumentaram os subsídios agrícolas em US$ 17 bilhões, só para 2001.

Os cidadãos do mundo desenvolvido pensam diferente. A sofisticada tese segundo a qual os americanos, ingleses, franceses e outros, que hoje valorizam como nunca a segurança individual, estariam dispostos a apoiar os governantes que dão mais atenção às necessidades externas é irrealista. Os eleitores não votam em candidatos que concentram sua atenção nas mazelas do mundo pobre para garantir segurança do mundo rico. Para os candidatos, mais difícil ainda será obter o apoio político e financeiro de empresários que terão de abrir mão de generosos subsídios em favor dos produtores dos seus concorrentes dos países emergentes.

Por isso, o manto do protecionismo deverá continuar por muitos anos. A guerra comercial terá de ser vencida aos poucos, batalha por batalha, e com um esforço desumano dos países mais pobres.

No caso do Brasil, continuaremos vítimas de barreiras para o aço, suco de laranja, soja, aviões, etc. Elas só serão vencidas por uma elevação constante da nossa produtividade - o que significa um trabalho colossal dos trabalhadores e produtores! - e pela remoção dos fatores internos que agravam ainda mais a desigualdade de competição no comércio internacional: juros, impostos, custo Brasil e educação - o que demanda um empenho muito maior por parte dos nossos governantes, em especial, dos parlamentares.