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Publicado no Jornal da Tarde, 29/11/00

Medo de imigrantes

José Pastore

Em relação a 1999, o Brasil dobrará a importação de mão-de-obra no ano 2000. Fecharemos o ano com mais de 10 mil profissionais trazidos do exterior. O maior importador é o setor de prospeção de petróleo (6 mil profissionais). Em seguida, vem a indústria aeronáutica.

Com o avanço das privatizações e a entrada de muito capital e tecnologia estrangeiros, as novas empresas preferem trazer gente de fora para ocupar os postos-chave. Busca-se, com isso, combinar competência e confiança.

Há casos injustificáveis como o de alguns bancos estrangeiros que trazem profissionais para trabalhar nos caixas e outras tarefas para as quais poderiam contar com brasileiros, mediante ajuste à cultura de cada empresa.

Mas essa não é a maioria dos casos. De um modo geral, a importação de mão-de-obra incide sobre gente altamente qualificada. Dentre as principais profissões estão os engenheiros, químicos e físicos.

Nos dias de hoje, esse é um fenômeno universal. A sociedade do conhecimento criou demandas colossais por pessoas especializadas. Por exemplo, a Índia está necessita de 145 mil técnicos em software - só no ano 2000. O País forma, anualmente, 122 mil profissionais desse tipo mas só os Estados Unidos recrutam mais de metade desse montante.

Para reter uma parte dessa mão-de-obra, a Índia aumentou em mais de 30% os salários daqueles técnicos - um esforço enorme -, passando-os para o equivalente a US$ 25 mil por ano. Isso não é nada pois, nos Estados Unidos, eles chegam a ganhar US$ 175 mil anuais!

Cerca de 12% da força de trabalho dos Estados Unidos são estrangeiros. No início, entraram pessoas de baixa qualificação, para fazer o que os americanos não queriam fazer. Hoje, são especialistas que fazem o que os americanos não sabem fazer.

Até o fim de 2001, os Estados Unidos precisam contratar 850 mil pessoas qualificadas na área de informática. Para tanto, aquele País ampliou as cotas para imigrantes. Mesmo assim, está difícil. Muitas empresas do Vale do Silício (Califórnia) estão abrindo filiais na Índia onde contratam profissionais bem treinados, ganhando menos. Em 1999, essas empresas responderam por 60% das exportações da Índia nesse campo; faturaram US$ 6 bilhões; e lucraram 50%! ("Techies wanted, Business Week, 06/10/2000).

A Europa também importa mão-de-obra qualificada. Alemanha e Inglaterra afrouxaram as leis de imigração. Os chineses lideram a lista dos importados.

Por que se busca tais profissionais na Ásia e Europa Central? Porque, nessas regiões, muitos países há quase meio século, investiram pesadamente em educação, preparando pessoas competentes e de fácil adaptação.

Para quem contrata, é uma grande vantagem pois, os investimentos ficaram para os "produtores de talentos". Para os países que perdem seus cérebros é uma desgraça pois se desfazem do capital mais valioso dos dias atuais - o conhecimento. É isso que tem levado alguns países como a China, por exemplo, a implementar programas de retorno de seus profissionais, oferecendo a eles condições de trabalho (e mordomias) inexistentes no exterior.

O Brasil está na ponta da importação. E para tanto, paga os estrangeiros a peso de ouro. E só sairá dessa situação quando a qualidade da nossa educação conseguir fazer o que fizeram a Índia, China, Coréia, Checoslováquia e Polônia nas décadas de 50 e 60. Essa é a melhor receita para se perder o medo dos imigrantes.