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Publicado no Jornal da Tarde, 20/08/2003.

Infra-estrutura gera emprego?

O governo federal anunciou sua disposição de investir cerca de R$ 191 bilhões em obras de infra-estrutura durante o período de 2004-07. O que isso vai significar para o emprego?

Os investimentos em infra-estrutura têm um enorme impacto na geração de empregos. A construção de usinas elétricas, refinarias de petróleo, redes de telecomunicações, saneamento, rodovias, ferrovias e outras obras cria postos de trabalho diretos, indiretos e remotos.

Os diretos se referem à construção das obras em si. Os indiretos se ligam à produção dos componentes (empregos "para trás") e à administração, comércio e serviços demandados pelas obras (empregos "para frente").

Os remotos vão mais longe. Para trás, eles chegam até à produção das matérias primas. Para frente, eles surgem da liberação dos benefícios da obra pronta. Uma estrada, por exemplo, desenvolve comunidades, facilita cargas, reduz o tempo de transporte, etc.- e gera trabalho.

As pesquisas mostram que R$ 1 milhão investido em infra-estrutura, gera, em média, 163 postos de trabalho! - 30 diretos, 19 indiretos e 114 remotos – também chamados de empregos decorrentes do efeito-renda. Trata-se de um resultado muito expressivo e de grande utilidade nesta fase de desemprego e informalidade crescentes.

Os nossos déficits em infra-estrutura são enormes. Apenas 40% dos domicílios brasileiros são servidos por rede de esgoto; 23% usam fossa séptica; e 37% não usam nenhum dos dois sistemas. No campo da habitação, faltam 12 milhões de "moradias adequadas".

No campo da energia elétrica, os blecautes ameaçam voltar. O Brasil não tem energia para crescer a mais de 3,5% ou 4% ao ano. Para superar a defasagem atual será necessário adicionar 3.650 MW anualmente até o ano 2007. Isso significa construir uma Usina de Tucuruí a cada 12 meses! - o que, certamente, geraria muitos empregos.

O Brasil tem apenas 150 mil quilômetros de estradas pavimentadas. A Austrália tem 250 mil; o Canadá, 290 mil; e os Estados Unidos, 5 milhões. O minúsculo Japão tem 790 mil quilômetros; a França, 750 mil; a Alemanha, 500 mil; e a Itália, 300 mil.

A construção e, principalmente, a operação e manutenção de estradas usam muita mão-de-obra. Por exemplo, para se construir 100 quilômetros de rodovia (pista dupla) são necessários 1.000 trabalhadores durante 2 anos, e para operar e manter esses 100 quilômetros, são indispensáveis 250 pessoas trabalhando de forma permanente nas atividades de pedágio, policiamento, socorro médico, assistência mecânica, consertos, reparações, capina, etc., sem falar nos empregos indiretos e remotos que surgem depois de concluída a obra.

Ou seja, o Brasil é um país a ser construído e tem todas as condições para desfrutar das vantagens da expansão da sua infra-estrutura.

As obras nesse campo exigem pouca importação e, portanto, ajudam a manter o nosso superávit fiscal. A capacidade administrativa e tecnológica das empresas brasileiras já deu prova de que é capaz de realizar grandes obras.

A mão-de-obra absorvida por essas obras é, em grande parte, de baixa qualificação, o que ajuda a empregar os que encontram dificuldades de trabalho em atividades mais sofisticadas.

Como grande parte dessas obras se localiza no interior do país, muitas delas poderão absorver os que foram eliminados pela agricultura tecnificada e até mesmo os que começam a invadir as propriedades rurais.

Enfim, os efeitos multiplicadores dos investimentos em infra-estrutura são colossais e muito podem ajudar a expandir o campo do emprego.

Oxalá o governo consiga transferir os R$ 191 bilhões do papel para a realidade, do discurso para a ação, do Programa Plurianual para os canteiros de obras.