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Publicado em O Estado de S. Paulo, 19/01/1999

O emprego com o novo câmbio

No meio da turbulência da desvalorização do real e da mudança do regime cambial, fazer cenários passou a ser tarefa de todos.

Qual será o ponto de equilíbrio da nova taxa de câmbio? O que ocorrerá com os juros? E com a inflação? As importações reduzirão muito? Como reagirão as exportações? Qual será o impacto de tudo isso sobre as contas do governo? E sobre as dívidas dolarizadas das empresas?

Essas questões só poderão ser respondidas com o tempo e, das respostas, dependerá o quadro do emprego.

Infelizmente, desempregar é empre rápido. Empregar é demorado. Antes da mudança da política cambial, a quadro do emprego para 1999 não era bom. Juros ferozes e dificuldades de exportar tornavam as empresas renitentes para empregar. As previsões apontavam para um sério agravamento da situação social com taxas de desemprego que poderiam ultrapassar a cada dos 10%.

é prematuro, porém, concluir que, com a virada na política cambial, os juros baixarão e as exportações explodirão num passe de mágica. Ao longo dos próximos meses, a economia passará por reações muito complexas e de difícil antecipação. Câmbio, juros e inflação serão incógnitas por um bom tempo. E isso afeta o emprego.

Uma coisa, porém, é certa. O Brasil tem pela frente uma rara oportunidade de executar um belo programa de reformas institucionais. E isso depende em grande parte dos nossos parlamentares pois, do lado das empresas e dos trabalhadores, os avanços nos ganhos de produtividade e de entendimento nas negociações foram imensos nos últimos anos. Esse é um capital precioso.

Mudanças institucionais também levam tempo. Isso é tarefa para vários anos. A busca do necessário equilíbrio nas contas públicas requer mudanças nas leis da previdência, do trabalho, dos tributos, do funcionamento da justiça, e da própria estrutura político-partidária da Nação.

A crise transformou assuntos tabus em temas quotidianos. Todos esses assuntos fazem parte da agenda do Congresso Nacional para o quadriênio legislativo que se inicia em 1º de fevereiro de 1999. As questões previdenciárias voltaram à pauta em regime de urgência. As reformas tributária, política e judiciária virão logo em seguida. E a trabalhista já está no Congresso Nacional.

Como todos os brasileiros, os parlamentares se assustaram com a crise e sabem que a guerra está apenas começando. Será uma jornada dura. Nunca as benditas reformas foram tão cruciais como agora.

Há grandes chances desse clima de sobressalto se transformar em catalizador das mudanças. é claro que, neste momentos de turbulência, as atenções se voltam para os desdobramentos de curto prazo que põem em risco a saúde da economia e a credibilidade do País.

A história, porém, não é cadenciada em minutos que marcam o ritmo dos negócios do mercado financeiro. As mudanças institucionais são contadas em décadas. Mas, em momentos de crise, elas são aceleradas. Isso ocorrendo no Brasil dos próximos meses, os trabalhadores poderão esperar dias bem melhores para si e para os seus filhos.

Essa hipótese não é irreal. No campo institucional, o Brasil não está começando do zero, como ocorreu com a Rússia que não tinha sequer um sistema tributário organizado para recolher os recursos para a manutenção das atividades essenciais do governo.

Ademais, o Brasil tem oportunidades para gerar empregos que poucas nações possuem. A construção da nossa infra-estrutura, a expansão da agropecuária e a ativação das atividades do turismo constituem três exemplos de um potencial peculiar do Brasil e que podem atrair muitos investimentos – nacionais e estrangeiros.

Para a maioria dos países ricos, essas áreas estão plenamente desenvolvidas. Entre nós, elas estão todas por fazer e representam enormes chances de trabalho.

A gravidade inusitada da crise cambial criou condições para detonar mudanças mais sérias no atual quadro institucional do País com claros frutos positivos no campo do emprego.

é evidente que o desemprego pode se gravar se a economia se desorganizar por inteiro. Isso é pouco provável. O mais provável, para não dizer o certo, é de uma quadra de muito sacrifício e grande pressão para mudar os fundamentos institucionais da economia brasileira.

Tais mudanças enfrentarão grandes resistências por contrariarem ganhos fáceis e privilégios corporativistas dos que se entrincheiraram durante décadas em instituições fatigadas e ultrapassadas.

Mas, a crise é grave. Oxalá a sua gravidade venha a determinar a profundidade das mudanças. O Brasil deve ter aprendido que nenhum plano dá certo se não for realista. O Plano Real foi concebido em cima de um tripé – estabilidade monetária, reformas econômicas e mudanças institucionais. De tudo isso, o País construiu apenas a primeira perna daquele tripé e a crise veio para dizer que isso é insuficiente. A construção das outras duas pernas e a agenda dos próximos anos. Com isso, o Brasil poderá se transformar em um grande canteiro de empregos e oportunidades de trabalho.