Artigos 

Publicado em O Estado de S. Paulo, 21/07/1998

O emprego no comércio eletrônico

A Revista Time de 20-07-98 publicou uma farta matéria cogitando sobre o fim das lojas e dos próprios shopping centers que, dentro em breve, dariam lugar às compras através da Internet. Se isso ocorrer, o que acontecerá com o emprego no comércio e serviços?

De fato, o crescimento do comércio eletrônico é meteórico. Nos países avançados, as transações comerciais realizadas por telefone, fax, caixas eletrônicos, terminais bancários, Internet, Intranet, etc. vêm aumentando na base de 30% ao ano! Para o ano 2001, só nos Estados Unidos, a Internet espera vender US$ 5 bilhões em financiamentos pessoais; US$ 4 bilhões no comércio de informática; US$ 3 bilhões em lazer; US$ 7,5 bilhões em viagens; e US$ 183 bilhões em negócios de empresa para empresa. Essa é uma lista parcial, desconsiderando as vendas que ocorrerão através da Intranet e a Extranet (compartilhamento de informações entre empresas incluindo fornecedores, clientes e parceiros de negócios).

No Brasil, os negócios realizados através do comércio eletrônico já ultrapassam a casa dos US$ 30 bilhões anuais. A rede bancária brasileira possui 85 mil ATMs (Automatic Teller Machine) nos quais, em 1997, foram realizadas 2,5 bilhões de operações. Ao lado disso, ocorreram 5,7 bilhões compras diretas por meio de cartões magnéticos, uma boa parte através das mais variadas formas de telemarketing.

O horizonte do comércio eletrônico é imenso. Qualquer pessoa que tenha um telefone ou computador ligado na Internet pode se tornar um "comerciante global" e vender para consumidores de todo o planeta. Os consumidores, por sua vez, podem adquirir produtos e serviços de todo o mundo, sem sair de casa.

Os ganhos do comércio eletrônico são consideráveis. Por exemplo, o custo de vender um microcomputador através da Internet é de apenas US$ 0.50; uma venda via telefone, custa US$ 5.00; e na loja, US$ 15.00 (OECD, Eletronic Commerce, 1997). São diferenças extraordinárias e que estimulam o rápido crescimento desse tipo de negócio.

O comércio eletrônico é o início de uma nova revolução. Essa modalidade de negócios será o principal motor econômico dos próximos 25 anos. Ela encurta distâncias; elimina intermediários; dispensa estoques descentralizados; economiza insumos; reduz despesas com transporte; baixa os preços; e gera atividade econômica.

Com base nessa intensificação, novos produtos, processos e mercados vem sendo desenvolvidos, o que vai gerar, dentro em breve, empregos inimagináveis nos dias atuais. A apreensão de que o comércio eletrônico destruirá o trabalho parece ser infundada. As primeiras estimativas da OECD mostram que essa nova modalidade de vendas mais gera do que destroi postos de trabalho.

O impacto empregador do comércio eletrônico é multifacetado. é verdade que a sua expansão tende a diminuir o número de lojas tradicionais e transformar a natureza dos shopping centers o que, em última instância, afeta o emprego dos comerciários. Mas, ao reduzir o custo das transações e elevar a eficiência das operações, o comércio eletrônico fará aumentar a riqueza, gerando novos investimentos e oportunidades de trabalho.

Os dados já indicam isso. Na verdade, o comércio eletrônico está criando uma quantidade de postos de trabalho inesperada. Verdadeiros exércitos de profissionais ficam por trás do telemarketing, Internet, Intranet, ATMs, etc. durante 365 dias por ano e 24 horas por dia. Nos Estados Unidos, 20% das pessoas já trabalham fora dos horários convencionais para atender as necessidades do comércio eletrônico, em especial, para responder consultas por E-Mail, supervisionar sistemas de vendas, providenciar entregas de bens e serviços e coordenar compras e cobrança.

A quantidade de anúncios de "procura-se" no mercado de trabalho do comércio eletrônico é crescente. Por exemplo, a "Amazon.com" (a maior vendedora de livros do mundo, por via eletrônica) está tentando recrutar no dia de hoje mais de 200 profissionais para as atividades de marketing, finanças, serviços ao cliente, editoria, informática, operações, estocagem eletrônica e várias outras que podem ser conferidas no seu "site" da Internet. Anúncios como esse se repetem diariamente.

A expansão do comércio eletrônico ocasionará muito deslocamento de postos de trabalho e também de profissões. Para os que forem educados e passíveis de reciclagem, não há o que temer. O comércio eletrônico vai abrir novas e interessantes modalidades de trabalho. Para os menos educados, só resta a sugestão para procurarem se educar e se preparar para esse novo mundo.