Publicado na revista do Grupo Votorantim, Junho de 2005.
O Trabalho do Futuro: Desafios da Juventude Brasileira
A geração de empregos depende de vários fatores. Três deles são essenciais: crescimento econômico sustentado, educação de boa qualidade e legislação realista. O Brasil está mal em todos. O crescimento econômico tem sido anêmico. O ensino continua precário. E a legislação trabalhista está desajustada em relação às novas formas de trabalhar.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem um potencial imenso para gerar empregos. Neste país, tudo está por ser feito. Superados os constrangimentos macroeconômicos e os problemas da educação e da legislação, o Brasil pode se tornar uma verdadeira usina de empregos.
Veja o caso da infra-estrutura. Apesar de seu tamanho continental, o Brasil tem apenas cerca de 150 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Isso não é nada. A Austrália tem 250 mil quilômetros, a Itália possui 300 mil quilômetros, o minúsculo Japão dispõe de quase 800 mil quilômetros e os Estados Unidos, mais de 5 milhões. Haverá uma enorme demanda de trabalho para construir e manter as estradas que o país precisa. O mesmo pode ser dito para edificar as 12 milhões de moradias de boa qualidade que hoje estão faltando e para erguer as hidroelétricas que são essenciais para o crescimento da economia.
Tudo isso cria muitos postos de trabalho. O Brasil já é uma superpotência agrícola e se destaca em setores de ponta como é o caso, por exemplo, da fabricação de aviões. Nossa capacidade exportadora tem crescido a passos largos, revelando que os produtos brasileiros são respeitados no exterior.
Outros setores têm igual potencial. Os campos do turismo, educação, saúde e o cuidado de crianças e idosos são ótimos nichos. Tais atividades dependem mais do contato humano do que de máquinas.
As máquinas tornaram-se baratas e inteligentes e substituem os seres humanos em várias tarefas. Mas elas têm dois efeitos sobre o emprego. De um lado, elas destroem postos de trabalho. Onde entra a máquina sai o trabalhador. De outro, elas elevam a produtividade, aumentam os lucros e estimulam novos investimentos e geram novos empregos.
O principal efeito das tecnologias é o deslocamento da mão-de-obra de um setor para outro. Nos próximos 20 anos, a indústria e a agropecuária empregarão menos gente e o comércio e serviços empregarão muito mais. Dentro de cada setor, haverá exceções. Na indústria, crescerá a demanda por trabalho na construção civil e de infra-estrutura. Na agropecuária aumentarão as oportunidades para quem lida com meio ambiente, jardinagem, paisagismo e animais domésticos. No comércio e serviços diminuirá a demanda de profissionais que podem ser substituídos pelas tecnologias da informática - almoxarifes, controladores, telefonistas, caixas e outros do mesmo gênero.
O quadro potencial do Brasil em matéria de emprego é animador. Mas, para tanto, teremos de crescer de forma contínua, melhorar a educação e modernizar a legislação.
Você que é jovem deve estar perguntando: mas enquanto isso não acontece, o que será da minha vida?
Convém saber que o mundo no qual você vai trabalhar está passando por uma verdadeira revolução. A velocidade das inovações tecnológicas é meteórica. Os equipamentos e processos que surgem hoje, serão obsoletos amanhã. Para acompanhar essa velocidade de mudança não basta ser adestrado. É preciso ser educado - e bem educado. A boa educação é aquela que dá ao ser humano a autonomia para crescer, a que injeta nas pessoas o vírus da curiosidade, que as leva a explorar o desconhecido o tempo todo, lendo intensamente na só sobre a sua profissão mas também sobre as profissões correlatas.
O mercado de trabalho está se tornando cada vez mais exigente. As empresas não contratam diplomas, currículos ou recomendações. O tempo do pistolão e do apadrinhamento acabou. As empresas contratam respostas e profissionais curiosos e que têm capacidade de apreender continuamente. Daí a importância da boa educação.
Você que é jovem, leve isso em conta. Quando o professor pede para ler um livro, leia dois. Quando pede dois, leia quatro. Construa em você o hábito de estudar por conta própria. Aproveite todos os momentos de folga para aprender, aprender e aprender. Se o emprego está difícil para quem estuda, imagine as dificuldades para quem vive nas trevas. Portanto, defina sua meta e procure ficar sempre acima da média da classe.
O mercado de trabalho tem sido rigoroso também em matéria de conduta. Não basta dominar os conhecimentos da sua profissão. Você precisa gostar do que faz. E fazer tudo com carinho, zelo, perseverança e comprometimento. Se você trabalhar como empregado, os seus supervisores estarão de olho no seu modo de encarar o trabalho. Se você trabalhar por conta própria, os seus clientes esperam competência, atenção, cordialidade e demonstração de que você trabalha com prazer. O mundo do futuro estará cada vez mais atento às condutas e aos hábitos dos profissionais. A ética no trabalho está tendo um papel crescente. Você tem de mostrar que é um profissional responsável e que cultiva sua reputação.
Educação de boa qualidade será o ingrediente fundamental para elevar a empregabilidade dos jovens. É claro que o mercado tem de abrir novas oportunidades para as pessoas trabalharem. Educação não gera empregos diretamente. Mas a existência de profissionais bem preparados atrai investimentos e estes sim geram empregos. Está aí a relação entre educação e emprego. Na era da globalização as empresas procuram se localizar ou executar suas atividades nos países onde há energia abundante, instituições confiáveis e profissionais bem educados e responsáveis.
Quem se preparar bem sairá na frente. Portanto, não desperdice um minuto do seu tempo. Construa em você mesmo a chama da obsessão para aprender continuamente. Estude com afinco para confiar em você mesmo e com isso despertar a confiança de quem vai utilizar os seus conhecimentos.
|