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Publicado em O Jornal da Tarde, 14/07/99

Que bom, emprego sobrando...

O grande problema das empresas americanas nos dias atuais é a falta de mão-de-obra. Os empregos estão sobrando e o desemprego desaparecendo. O país tem apenas 4,2% de pessoas desempregadas e não pára de gerar novos postos de trabalho. São quase 300 vagas todos os meses!

As empresas estão gastando fortunas com mega-anúncios nos jornais e TVs, oferecendo oportunidades de trabalho a pessoas de variados níveis de qualificação.

Como já não há mais trabalhadores qualificados disponíveis, as empresas passaram a investir pesadamente no treinamento dos menos qualificados, a fim de prepará-los para desempenhar as funções para as quais estão sendo contratados.

Os Estados Unidos estão elevando a competência da mão-de-obra nacional com o esforço do setor privado. Como a explosão de empregos conseguiu tirar do seguro desemprego cerca de 2 milhões de pessoas nos últimos 5 anos, há também mais recursos públicos para educação e treinamento. Essa união de recursos públicos e privados, em grande escala, terá um impacto fantástico na elevação da produtividade do fator trabalho daquele país ao longo de muitas décadas.

Enquanto isso a Alemanha continua com seus 11% de desempregados que, só em matéria de seguro-desemprego consomem o equivalente a US$ 120 bilhões por ano! A legislação trabalhista alemã - embora mais leve do que a brasileira - continua muito amarrada para os tempos atuais.

Em lugar daquele país aliviar os encargos sociais, o governo partiu para sobrecarregar os próprios trabalhadores. Lei recentemente aprovada taxou as pessoas que têm um segundo emprego, em tempo parcial, e que ganham até o equivalente a US$ 350 por mês (DM 630) - o que fez baixar o seu salário médio para US$ 198 mensais.

Conclusão. O país vai jogar no desemprego mais 800 mil pessoas, que passaram a achar desinteressante trabalhar mais, como faziam, para complementar sua renda.

No Brasil quem assumiu a bandeira da tributação do trabalho, nos últimos meses, foi o Ministério da Previdência. Numa verdadeira contramão da história, as últimas resoluções daquele Ministério aplicam pesados encargos previdenciários aos pagamentos realizados pelas empresas para garantir o seguro de vida de seus empregados ou a assistência aos filhos de suas funcionárias. Incrível!

A França igualmente resiste a desregulamentar o seu mercado de trabalho e, por cima, se prepara para entrar na semana de 35 horas no ano 2000. Em lugar de criar mais vagas, estima-se uma grande destruição de postos de trabalho, o que deverá elevar o desemprego dos atuais 11% para, no mínimo, 13%.

O excesso de regulamentação atinge também o mercado de bens e serviços. Quando um país insiste em fechar as lojas ao meio-dia do sábado para abri-las só na segunda feira, é porque está disposto a gerar poucos empregos e gastar muito com seguro-desemprego, como acontece na Alemanha, França, Itália e outros países da Europa.

A maior barreira para as mudanças trabalhistas tem sido a classe política que teme perder votos na hora de desregulamentar as atividades. Pura ilusão. A Inglaterra e a Holanda fizeram isso nos anos 80 e, hoje em dia os políticos desfrutam de grande prestígio, mesmo porque a taxa de desemprego naqueles países se mantém abaixo dos 5%.

Os políticos do Brasil estão se apercebendo de que, dominada a inflação, o bem mais desejado pelos eleitores é um emprego para si e para seus filhos.

Para os que desejam se eleger ou reeleger, está na hora de começar a aprontar suas plataformas para as eleições do ano 2000 ou 2002, oferecendo alternativas concretas para resolver o problema do desemprego e do trabalho informal, deixando um pouco de lado a surrada retórica corporativista que só serve para aplacar os ânimos dos que já estão empregados.