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Publicado em O Jornal da Tarde,18/11/1998

Tecnologia e emprego

Afinal, as tecnologias empregam ou desempregam? Na literatura há respostas para todos os gostos - desde as que vêem a tecnologia como a grande responsável pelo desemprego e desigualdade de renda até as que a consideram como a grande saída para se criar novos postos de trabalho e melhorar o bem estar humano.

O tema é extremamente controvertido. Dizer que tecnologia substitui trabalho é fácil. Provar que ela gera desemprego é difícil.

A simples coincidência de avanços tecnológicos com aumento de desemprego não é suficiente para se concluir que as inovações são destruidoras de empregos.

Uma tecnologia pode ter um impacto direto destrutivo e um impacto indireto construtivo - em outro setor da economia. Além disso, uma tecnologia pode destruir empregos hoje, e criar amanhã - na mesma empresa.

As tecnologias ajudam ou atrapalham o trabalho humano? Tudo depende em que ambiente elas caem. Quando elas são usadas para baixar os preços e instigar a demanda por bens e serviços, os impactos positivos são enormes.

Em 1960, uma ligação telefônica de três minutos entre o Brasil e os Estados Unidos custava cerca de US$ 45.00 (em valores de 1998); hoje, custa US$ 3.50. A modernização tecnológica determinou mudanças radicais no uso das telecomunicações que, por sua vez, passaram a movimentar novos negócios, melhorando processos, criando produtos e gerando oportunidades de trabalho.

Em 1960, uma viagem aérea entre São Paulo e New York custava US$ 3,000.00 (em valores de 1998); hoje, custa US$ 500.00. O avanço tecnológico que permitiu o barateamento do transporte aéreo ampliou as oportunidades de trabalho na área do turismo, além de facilitar o transporte de bens o que também gerou mais trabalho.

As flores da Cooperativa de Holambra, em Jaguariúna, São Paulo, chegam aos consumidores de New York em menos de 24 horas. As frutas de Petrolina, são vendidas na Europa dois dias depois de embarcadas em Pernambuco. As oportunidades de trabalho em Jaguariúna e Petrolina seriam muito menores não fora a sua participação no comércio internacional.

O mundo atual está repleto de exemplos de tecnologias que criaram novos produtos, geraram novas demandas e novas oportunidades de trabalho. A televisão, o videocassete, o CD player, o tênis, a calça jeans, o McDonald's, etc. são exemplos de inovações bem recebidas pelos consumidores e que geraram uma grande quantidade de postos de trabalho - diretos e indiretos.

Afinal, as tecnologias destroem ou criam empregos? Depende do ambiente institucional em que operam. Tecnologias que entram em sociedades pouco educadas e com leis trabalhistas rígidas, mais destroem do que criam empregos. Tecnologias que entram em sociedades bem educadas e quadros legais flexíveis, mais geram do que destroem postos de trabalho.

Todo o Primeiro Mundo usa intensamente as novas tecnologias. Nos países de instituições flexíveis, o desemprego no início de 1998 mostrou-se bastante baixo: Estados Unidos (4,5%), Japão (3,5%) e Tigres Asiáticos (3%). Onde as instituições são mais rígidas, o desemprego era alto: Alemanha (12%); França (13%); Itália (14%); Espanha (20%). Na Europa, a Inglaterra e Holanda que flexibilizaram as leis trabalhistas tinham menos de 5% de desemprego naquele período.

Em suma, para se avaliar o efeito final das tecnologias não basta examinar a destruição líquida de emprego que geralmente ocorre nos locais em que entram. é preciso examinar os efeitos de deslocamento da mão-de-obra e de criação de novas atividades e postos de trabalho em outros setores e empresas.

No mundo atual, não há a menor possibilidade das empresas competirem fora dos avanços tecnológicos. Se a situação do emprego é difícil com tecnologia, seria catastrófica sem ela.