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Publicado em O Jornal da Tarde,08/04/1998

O desemprego dos chefes

Ao perceber a presença de Chico Anísio numa festa de casamento, o "espaçoso" general aproximou-se, e pediu à queima roupa: - Chico, conta uma piada, ao que o profissional humorista arrematou: Só se o senhor der um tiro de canhão...

Doravante, para as dezenas de pessoas que me abordam em restaurantes, festas, cerimônias e até enterros, perguntando qual é a melhor profissão para seu filho conseguir trabalho, terei também uma resposta pronta: Leia o livro de Roberto Macedo, Seu Diploma, Sua Prancha, Editora Saraiva, 1998. Trata-se de uma verdadeira usina de idéias para ajudar os jovens a enfrentar melhor o mundo do trabalho.

A educação em si não gera emprego, é claro. Mas uma boa educação ajuda as pessoas se manterem no trabalho e a disputar com vantagem as poucas vagas que se abrem.

Nesse campo, porém, persiste um enigma. Entre 1992-96, uma parcela expressiva dos que foram demitidos das empresas industriais, era constituída por pessoas escolarizadas e da área administrativa. Uma pesquisa recentemente concluída pelo SENAI confirma que, na indústria, até o ano 2000, as empresas pretendem dispensar mais administradores. Mas, em contrapartida, pretendem contratar mais técnicos (Modernização, Emprego e Qualificação Profissional, SENAI, 1998).

Não se pode dizer que o desemprego dos chefes seja interiramente devido à sua educação. Na verdade, muitos cargos da administração estão sendo extintos, pois os novos métodos de trabalhar permitem que os trabalhadores sejam chefes de si mesmos. Além disso, inúmeras atividades administrativas estão sendo transferidas para fora da empresa através da terceirização, subcontratação e trabalho autônomo.

Ou seja, a informatização e a terceirização fazem as chefias encolherem em número, tornando-as mais complexas na sua natureza. Os que ficam empregados têm de desenvolver novas habilidades numa atividade de aprendizagem contínua.

Isso vai prosseguir. Para uma parcela expressiva, o futuro lhes reserva uma redefinição de perfil profissional e um deslocamento dos seus postos de trabalho para outros setores, empresas e ocupações.

Há pouco tempo participei de um encontro de administradores que foram demitidos pela indústria automobilística do ABC de São Paulo no período de 1996-97. Era um grupo de chefes desempregados. Para voltar ao trabalho, a maioria estava usando as indenizações recebidas e suas poupanças pessoais para montar pequenos negócios e trabalhar por conta própria.

Essa é a tendência do futuro. Os dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE mostram que, entre os entrevistados em 1996, e em relação à sua situação em 1991, houve uma redução de 11% dos empregados e um aumento de 35% entre os que trabalham por conta própria e 49% entre os empregadores.

Isso revela que as oportunidades estão saindo do emprego convencional e se orientando para outras modalidades de trabalho. Para os jovens é crucial considerar essas transformações e o trabalho de Macedo oferece sugestões úteis sobre como se preparar para esse novo mundo que já não é mais do futuro mas sim do presente.

Para eles, é muito importante descobrir o que gostam de fazer e se capacitar bem na profissão escolhida. Para tanto, é fundamental estudar com afinco; desenvolver uma boa capacidade de leitura; aprender línguas; viajar com o espírito de aprendizado; adquirir experiência prática; e, enfim, habilitar-se para enfrentar um mercado cada vez mais competitivo e muito mais interessado na capacidade de resolver problemas do que no diploma do candidato. Toda vez que alguém bater numa empresa e garantir ser capaz de resolver alguns de seus problemas, é certo que as portas se abrirão. Só depois é que se vai querer saber da sua profissão e do seu diploma.