Publicado em O Jornal da Tarde, 06/05/1998
Tony Blair e o desemprego
O dia 1º de maio marcou também o aniversário de Tony Blair como primeiro ministro e em editorial recente, o Estadão destacou a eficiência de sua estratégia no combate ao desemprego: "O governo, diz Blair, tem que cuidar menos de regulamentar e mais de preparar as pessoas para as mudanças econômicas" ("O desemprego e a lição de Blair", O Estado de S. Paulo, 20-03-98).
A Inglaterra abriu a cortina do ano de 1998 dando um show ao apresentar 5,5% de desempregados - um grande desempenho quando comparado com países da Europa que exibiram taxas alarmantes como a Alemanha (12%); França (13%), Itália (15%), Bélgica (16%) e Espanha (21%).
Tony Blair é um azougue no campo do trabalho que, aliás, conhece muito bem. é advogado trabalhista, especialista em emprego, tendo sido membro do ministério paralelo entre 1989-92 quando ocupou exatamente essa pasta.
Mas Tony Blair tem dado grandes sustos a trabalhistas e esquerdistas. Ainda como "ministro fantasma", ele demandou do povo inglês, mais trabalho e menos lazer ao escrever o Manifesto do Partido Trabalhista sob o provocativo título, "Vamos fazer a Inglaterra trabalhar novamente".
Como primeiro-ministro, em 1997, ele demandou dos sindicalistas da siderurgia um "banho de realidade", lembrando que a economia mudou muito nos últimos 20 anos. A siderurgia, disse, "tornou-se menos importante do que o mundialmente aplaudido rock-and-roll. Para a Inglaterra, o aço gera menos divisas do que o rock" - arrematou.
Ao falar para os socialistas franceses, na Assembléia Nacional da França, em 1998, Blair revelou ter trabalhado num bar francês no qual os garçons se comprometeram a depositar as gorjetas num grande vaso fechado colocado sobre no balcão principal e que, depois de três meses, descobriu ser ele o único que estava seguindo o ritual à risca. Nas suas palavras: "Foi a minha primeira lição do que é o socialismo na prática".
O carisma, a inteligência e a praticidade têm feito de Tony Blair um dos maiores fenômenos políticos da atualidade. A volta da Inglaterra ao trabalho e à festejada baixa do desemprego, transformaram-se em mascotes de sucesso, tornando o seu modelo um "produto de exportação".
Mas, no campo do trabalho, convém lembrar que foram as reformas realizadas nos anos 80, por Margareth Thatcher que estão garantindo os frutos ora colhidos por Tony Blair. Ele mesmo reconhece que "a ênfase da Dama de Ferro na privatização e na área trabalhista estava certa".
A Inglaterra é muito diferente do Brasil, é claro. Trata-se de uma economia mais vigorosa e que conta com uma população altamente educada. Mas há três lições que parecem servir, pelo menos, como motes de meditação.
A primeira mostra que os países que modernizaram suas leis trabalhistas na Europa, em especial a Inglaterra e a Holanda (que têm menos de 6% de desemprego), estão conseguindo ocupar praticamente toda a sua população.
A segunda é que as reformas no campo trabalhista precisam ser amplas porque mudanças tópicas que não chegam a modificar a lógica de funcionamento do sistema, apresentam resultados pífios – como ocorreu na Espanha.
A terceira lição é que os resultados de uma reforma trabalhista, mesmo de uma boa reforma, levam certo tempo para serem apreciados.
No Brasil, estamos praticamente parados nesse campo. Fizemos há pouco tempo uma reforminha, anêmica, isolada e burocratizada, ao se aprovar a Lei 9.601 que trata do banco de horas e do contrato de prazo determinado.
Está na hora de enfrentarmos os problemas com mais realismo. A economia brasileira também mudou. é bem provável que o tchan da Carla Perez, o pagode da Daniela Mercury e o axé do Carlinhos Brown estejam gerando mais renda e emprego na Bahia do que o tradicional cacau. Não é o caso de exercitar a criatividade na área trabalhista?
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