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Publicado em O Jornal da Tarde,16/05/1997

Os empregos da ALCA

Do lado de fora da reunião da ALCA, em Belo Horizonte, em maio de 1997, as lideranças sindicais manifestaram sua preocupação com os possíveis prejuízos de um mercado de livre comércio para os empregos e os salários dos trabalhadores brasileiros.

O exemplo mais citado foi o NAFTA. De fato, a criação do bloco entre os três países do norte favoreceu a geração de empregos nos Estados Unidos e Canadá - e não no México.

No período de 1993-96, as exportações dos Estados Unidos para o México aumentaram 37%. Só nas empresas exportadoras, houve um acréscimo de 311 mil empregos diretos, o que significa um aumento de 0,3% em relação à força de trabalho americana. Enquanto isso, o emprego no México caiu 7%.

O exemplo serve à tese dos que condenam a internacionalização do comércio, mas está contaminado pela forte recessão que atingiu o México em 1995. é impossível saber qual foi o efeito líquido do NAFTA e da recessão.

Mas uma coisa é certa: O México não teria saído daquela grave crise com a velocidade que saiu não fosse ele membro do NAFTA e recipiente da fraternal ajuda dos Estados Unidos que lhe emprestaram US$ 20 bilhões e convenceram o FMI a ser complacente com seu vizinho.

Qual será o impacto da ALCA sobre o emprego no Brasil? A maioria dos participantes da reunião de Belo Horizonte partiu do pressuposto que a intensificação do comércio internacional melhora o emprego. Em favor dessa tese, foram usadas as histórias de sucesso dos Estados Unidos, Japão e Tigres Asiáticos que comercializam muito e têm as menores taxas de desemprego do mundo.

Apesar de lógica e consistente, essa tese só se materializa através de transformações gigantescas. O Presidente Fernando Henrique Cardoso exprimiu bem essa necessidade ao dizer naquela reunião: "A redução de tarifas aproxima as economias, mas não os povos".

Os Estados Unidos, sozinhos, respondem por quase 20% das exportações mundiais enquanto que a América Latina toda responde por pouco mais de 4%. O Brasil participa com menos de 1%. O salto no campo das exportações, para nós, constitui um desafio monumental.

Para avançar de modo agressivo nos mercados das Américas, o Brasil terá de elevar ainda mais a produtividade de sua economia da mesma forma que os Estados Unidos e Canadá terão de fazer reduções sinceras nas atuais barreiras de importação.

A geração de emprego com a criação da ALCA, portanto, não tem nada de automática. Ela depende de imensos ajustes multilaterais. Não dá para saber, de antemão, qual será o resultado do jogo. Só nos resta jogá-lo. Se a expansão do emprego à partir da intensificação do comércio internacional é difícil, sem ela, é impossível.

Política industrial, melhoria da educação, saúde, infra-estrutura, portos, transporte, juros, legislação trabalhista, previdenciária - enfim, todas essas reformas são condição sine qua non para se poder atender o mercado interno, exportar mais e ampliar as oportunidades de trabalho.

Mas não se pode esperar todas as reformas para começar a competir. Nosso destino está selado. Ou competimos ou morremos.

Como as reformas não ocorrem por meio dos procedimentos internos, é bem provável que a ALCA, com sua avassaladora força de competição, venha a desempenhar o papel de precipitador das nossas reformas. Está aí um importante papel para o novo bloco econômico. Será uma transformação traumática, sem dúvida, mas melhor do que permanecer na estagnação.