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Publicado no Jornal da Tarde, 18/02/2004

Flores, tecnologia e emprego

Não há rodinha de bar ou almoço de família onde não se condene a tecnologia, pelos estragos que vem fazendo no campo do emprego.

O raciocínio é simples: onde entra a máquina, sai o trabalhador. E como as máquinas têm ficado muito baratas e inteligentes, as empresas utilizam-nas para produzir cada vez mais com menos trabalhadores. Estaria aí a causa do desemprego moderno. Por isso, abaixo as máquinas, abaixo a automação, e abaixo os robôs!

Será que a tecnologia é mesmo a vilã do emprego? O tema é controvertido. A simples coincidência de avanços tecnológicos com aumento de desemprego não é suficiente para se concluir que as inovações tecnológicas são destruidoras de empregos. Tudo depende em que ambiente elas caem. Quando são usadas para baixar os preços, criar novos produtos, inventar processos e instigar a demanda por bens e serviços, os benefícios são enormes. Quando caem no meio de uma população educada e de legislação trabalhista adequada, elas geram muitos empregos.

Vejam o caso da floricultura, uma atividade que, por natureza, usa muito trabalho. Hoje em dia, as flores brasileiras estão presentes na maior parte dos países desenvolvidos. Entre 2002 e 2003, as exportações nesse setor aumentaram 30%. Os americanos dobraram as compras brasileiras naquele período.

Em países como a Holanda, Estados Unidos, Itália, Japão, Inglaterra, Alemanha e Dinamarca - nações que têm uma longa tradição em floricultura - o Brasil é considerado imbatível em flores tropicais e flores para arranjos decorativos.

A expansão do mercado internacional foi acompanhada de um forte aumento no número de empregos nas plantações do Brasil, especialmente em São Paulo, que responde por 79% das exportações.

Trata-se de uma atividade que só ganhou essa relevância devido à incorporação de inúmeros avanços tecnológicos. Em primeiro lugar, tiveram destaque as tecnologias biológicas e químicas usadas no processo de produção e que garantem não só a continuidade de suprimento mas, sobretudo, as homogeneidade, durabilidade e beleza que se exigem das flores.

Em segundo lugar, teve grande peso o barateamento do transporte aéreo, conseguido por meio da incorporação de inúmeras inovações tecnológicas, sendo a mais importante, o uso do avião a jato. Isso permitiu os 230 pequenos produtores da Fazenda da Holambra, em Jaguariúna (São Paulo), por exemplo, colherem as flores de madrugada, embarcá-las no início da manhã no Aeroporto de Viracopos (Campinas) e vendê-las aos moradores de Manhattan (New York) no fim do dia.

Será que as regiões produtoras de flores teriam mais empregos se não participassem do comércio internacional? É claro que não. Mais da metade dos empregos da floricultura brasileira decorreu das inovações tecnológicas que viabilizaram as exportações. Vejam este exemplo.

Em 1960, a viagem aérea mais barata entre São Paulo e New York custava US$3,000.00 (em valores de 2004); hoje, custa US$400.00. isso atingiu também o transporte de carga, com inúmeras repercussões positivas no campo do emprego.

No que tange aos passageiros, o barateamento ampliou o trabalho no turismo - a maior indústria empregadora do mundo. No que tange à carga, criou empregos para quem precisa exportar com rapidez e segurança, como é o caso das flores e das frutas. Será que a região de Petrolina (Pernambuco) teria mais empregos se não participasse do comércio internacional, exportando uvas, melão e papaia para a Europa, América do Norte e Japão? É claro que não.

Por isso, fiquei contente ao ler sobre o sucesso das flores brasileiras na Feira Internacional de Essen (Alemanha), realizada há poucos dias ("Flores brasileiras batem recorde de exportação, o Estado de S. Paulo, 09/02/2004). Os visitantes se apaixonaram pela beleza e variedade das flores brasileiras e pela certeza do seu recebimento, em tempo recorde. Por isso, dobraram suas encomendas para 2004. O Brasil irá muito longe com essa estratégia. É uma boa maneira de se usar as vantagens das tecnologias para gerar receita e gerar empregos. Por isso, veja bem o que você vai falar na próxima rodinha de cerveja ou no bate-papo em família... Tecnologia pode criar muito emprego. Tudo depende de onde ela entra.