Publicado em O Jornal da Tarde,31/01/1996
Robotização e desemprego
A importância das novas tecnologias para o desenvolvimento econômico é inquestionável. Mas, o seu impacto sobre o nível de emprego é matéria controvertida. Embora a maioria das tecnologias produza uma economia de mão de obra, muitas delas geram novos mercados e novas oportunidade de trabalho.
A captação adequada dos efeitos negativos e positivos constitui um enorme desafio metodológico. Cada tecnologia tem seus próprios impactos. Além do mais, a sinergia entre elas gera efeitos compensatórios - também de difícil apreensão.
Por essa razão, os estudos nesse campo estão se tornando cada vez mais específicos. Dentro dessa nova linha, Dietmar Edler e Tatjana Ribakova realizaram uma pesquisa para medir o impacto de 11 tipos de robôs industriais sobre o emprego na Alemanha no período de 1980-2000 ("he Impact of Industrial Robots on the Level and Structure of Employment in Germany", Technological Forecasting and Social Change, Vol. 45, 1994).
O número desses robôs que era de 1.250 em 1980, saltou para 28.240 em 1990 e chegará a 34.140 no ano 2000. No seu modelo, os autores simularam o que será do emprego naquele ano sob três hipóteses: (1) com a não-implantação dos robôs previstos; (2) com a implantação, sem levar em conta os efeitos compensatórios; (3) com a implantação, levando em conta os referidos efeitos.
As conclusões principais desse estudo são as seguintes. (1) De um modo geral, a introdução de robôs ao longo do tempo resulta numa redução do emprego. (2) Essa redução é muito modesta no início, mas se acelera rapidamente durante o processo de difusão. (3) Sem os efeitos compensatórios, os robôs reduzirão 180 mil empregos no ano 2000. (4) Com os efeitos compensatórios isso cairá, respectivamente, para 14 mil e 48 mil.
O estudo identificou que os robôs afetam os setores e as ocupações de modo diferente. A maior redução de emprego ocorrerá nos setores automobilístico, mecânico e eltétrico. Os soldadores, por exemplo, perderão 60 mil empregos até o ano 2000. Um outro grupo afetado é o de metalurgistas, operadores de máquinas e montadores. Os de maior risco são os trabalhadores de baixa qualificação. Por outro lado, a maior ampliação de emprego ocorrerá nas indústrias que produzem e cuidam dos robôs. Os eletricistas aumentarão em 14 mil e os mecânicos de manutenção em 16 mil.
Em suma, os robôs provocam mudanças dramáticas no nível e na estrutura do emprego. Mesmo assumindo os efeitos compensadores, a robotização mais destrói do que cria empregos. Os profissionais de baixa qualificação sofrem mais. Os mais qualificados têm uma grande chance de se beneficiarem da nova tecnologia.
A antecipação dessas tendências é de fundamental importância para se traçar uma política de formação de mão de obra. Isso vale para qualquer país, inclusive para o Brasil. Tendo em vista a impossibilidade de se estancar a incorporação das novas tecnologias nos processos produtivo e administrativo, só nos resta montar sistemas de formação de mão de obra voltados para o futuro - e não para o passado. Conhecimento e agilidade são características essenciais para se poder educar, treinar, reciclar e reconverter a nossa força de trabalho.
Ao lado disso, a flexibilização da legislação trabalhista é de extrema urgência pois, no mundo do futuro, haverá poucos empregos fixos e de tempo integral. Prevalecerão, naquele mundo, os profissionais que trabalham na base de projetos que têm começo, meio e fim. Uma vez terminados, eles passarão para outros projetos, trabalhando como autônomos, à distância e muitas vezes em casa através do tele-trabalho.
Tudo isso exige muita qualificação e um quadro legal que seja capaz de acomodar as pessoas em um mundo que tenderá a reduzir os empregos fixos e de baixa qualificação.
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