Publicado em Jornal da Tarde, 06/10/1999
O paradoxo da promoção
Ainda que freqüentes, as promoções são pouco estudadas na área trabalhista. Dentre as várias questões a serem esclarecidas estão as seguintes:(1) O que conta mais na promoção: educação ou competência? (2) Quais são os tipos de promoção mais freqüentes: as competitivas ou as que decorrem de abertura de novas vagas? (3) A promoção aumenta a lealdade do funcionário para com a empresa?
As promoções são em grande parte utilizadas para motivar os funcionários. Em geral, elas melhoram os seus salários, benefícios e condições de trabalho. Além disso, elas sinalizam para os demais funcionários o reconhecimento da empresa pelos que melhor produzem. A promoção é um "prêmio", e a produtividade é o meio para ganhá-lo.
Na medida em que as economias se tornam mais competitivas, aumenta o rigor na aferição da produtividade e as empresas ficam menos benevolente com trabalhadores improdutivos.
O estudo da promoção é complexo e exige o acompanhamento das pessoas ao longo da sua carreira. Uma pesquisa publicada em 1999, acompanhou, durante 11 anos, a trajetória de 10 mil jovens que começaram a trabalhar em 1979. Nesse período, cerca de 25% deles foram promovidos. (Michael R. Pergamit e Jonathan R. Veum, "What is a Promotion?", in Industrial and Labor Relations Review, Vol. 52, no. 4, 1999).
Foi interessante verificar que, dentre os promovidos, 26% subiram na estrutura da empresa, não porque passaram para cargos mais altos e previamente existentes, mas sim, porque os seus cargos sofreram uma elevação de status dentro do mesmo setor em que trabalhavam. Ou seja, a progressão na carreira decorreu da "promoção" do cargo.
Tanto que, 30% dos promovidos, apesar de receberem mais salários e benefícios, continuaram fazendo exatamente a mesma coisa do que faziam antes da promoção. Cerca de 10% dos funcionários foram promovidos para preencher novas posições e 5% subiram devido à reorganização das empresas.
Portanto, em cerca de 75% dos casos, houve "promoção passiva", decorrente de meros acertos nos cargos e funções, e não de um processo competitivo no qual para um funcionário subir, outro tem de descer na hierarquia ou sair da empresa - "promoção competitiva". Houve apenas 22% deste tipo de promoção, nos quais os funcionários assumiram a chefia no setor em que trabalhavam ou em outros setores.
O estudo mostrou uma estreita associação entre a produtividade e promoções, em especial, as competitivas nas quais educação, treinamento e competência pesaram muito.
Surpreendentemente, porém, foi a fraca associação entre promoção e lealdade. Isso não quer dizer que as pessoas promovidas se tornam menos leais à empresa. Mas, o acréscimo de lealdade ficou muito aquém dos acréscimos de salários, benefícios e melhoria das condições de trabalho.
Uma das interpretações mais plausíveis para esse fenômeno repousa no fato de que as pessoas que mais lutam por promoção, são também as que mais investem na sua carreira. A valorização da carreira é a marca dos tempos modernos. Nos dias atuais, as empresas estão se tornando cada vez menos responsáveis pelos seus funcionários.
O mais comum é ouvir-se: "esta empresa não garante segurança de emprego, mas proporciona boas oportunidades para você progredir na carreira".
No mundo onde o emprego fixo e o salário fixo se reduzem, e o trabalho intermitente e a remuneração variável aumentam, é razoável esperar-se que os bons profissionais - em especial, os que são promovidos - fiquem com um olho fora da empresa pois, o seu progresso depende mais da sua carreira do que da empresa. É o paradoxo das promoções.
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