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Publicado em O Jornal da Tarde, 09/11/1994

As profissões do futuro

Hoje estou em Washington visitando o Centro de Estatísticas do Trabalho onde tenho vários encontros com técnicos do Departamento de Projeções Ocupacionais. São profissionais que dominam uma metodologia poderosa e que permite saber quais serão as oprtunidades de trabalho para os americanos no ano de 2005.

O meu interesse é aprender essa metodologia e tentar "aclimatizá-la" ao Brasil. Dados desse tipo são fundamentais para o planejamento educacional.

Escrevi este artigo antes de viajar. O fiz como um mero exercício de especulação. Quais serão as ocupações mais demandadas daqui a dez anos no Brasil? Em que setores? Ai vão algumas idéias baseadas nas seguintes hipóteses: (1) a economia brasileira se mantém estável: (2) os investimentos de capitais nacionais e estrangeiros no setor produtivo chegarão a uns US$ 40 bilhões por ano: (3) o custo médio de um emprego ficará em torno de US$ 25.000.

Esse Brasil deverá gerar uns 20 milhões de novas posições de trabalho até o ano 2005. A oferta será maior no setor de comércio e serviços que absorverá uns 62% da força de trabalho: a indústria responderá por 22% e agropecuária 16%. Portanto dos 20 milhões de posições a serem criadas, 12,4 serão no comércio e serviços: 4,4 na indústria; e 3,2 na agricultura.

Dentro do comércio e serviços, o que promete crescer mais são as profissões nos campos da saúde, educação, hospedagem, alimentação, lazer, seguros, administração, corretagem imobiliária, compra e venda – em especial, via telefone, TV, fax e modem e uma forte procura por profissionais ligados ao comércio internacional.

Deverá crescer a demanda por administradores, técnicos e profissionais liberais diminuindo, porém, a necessidade por chefes intermediários e pessoal de apoio administrativo de baixa qualificação (datilógrafos, telefonistas, serviços gerais).

No campo da informática crescerá a procura por cientistas, engenheiros e analistas de sistema e demais profissões ligadas ao uso do computador como instrumento de diversificação de Produção, melhoria da qualidade, aumento da produtividade e atendimento à educação e saúde. Haverá um decréscimo de demanda para programadores e processadores de texto, gráficos e cálculos, pois com a sofisticação dos softwares, o usuário fará tudo sozinho.

No setor financeiro, espera-se um grande declínio dos profissionais que hoje operam as agências bancárias pois estas tenderão a desaparecer. Isso envolve caixas, atendentes, telefonistas, pessoal, auxiliar de administração e até mesmo profissionais de venda. Todos eles serão rapidamente substituídos pelo banco eletrônico e pelos "cartões inteligentes" que tomam decisões pelos clientes. Aumentará demanda pelos profissionais altamente qualificados que sustentam a retaguarda dos bancos: administradores, analistas, estrategistas, relações públicas, etc.

De um modo geral, tenderão a aumentar as profissões que envolvam contato com outras pessoas – agentes de viagens e de seguros, recepcionistas de hotel, garçons, maitres, professores, advogados, assistentes sociais, enfermeiros, paramédicos e profissionais que trabalham com crianças e velhos.

Na indústria, o subsetor mais promissor será a construção civil e pesada, voltada para a infra-estrutura. O restante do setor, deverá aumentar muito a sua produtividade, gerando poucos empregos em relação ao capital investido. Antecipa-se um declínio da demanda para a maioria das profissões de baixa qualificação e um aumento de procura por técnicos eletrônicos, eletricistas, encanadores, mecânicos, frezadores, marceneiros e outros, todavia, deslocados para a manutenção de equipamentos de produção e administração assim como aparelhos de uso doméstico.

Na agropecuária, pesca e mineração haverá forte decréscimo de oportunidades de trabalho, exceto para os profissionais que lidam com jardinagem, ornamentação e proteção ambiental, inclusive de animais.

O futuro exigirá profissionais competentes, multifuncionais, alertas, curiosos que precisarão ter passado por uma educação que lhes tenha equipado com lógica de raciocínio; compreensão dos processos; capacidade de transferir conhecimentos; prontidão para atecipar e resolver problemas; conhecimento de línguas; habilidade para tratar pessoas e trabalhar em equipe. Ou seja, um tipo de educação que dá às pessoas as condições de aprenderem continuamente.

Tudo isso ainda é mera especulação. Os que desejam dados mais robustos terão de esperar a minha volta... e, daqui alguns anos, a implantação no Brasil da metodologia das projeções ocupacionais. Mas, uma coisa é certa. No mundo do futuro, haverá muito poucas oportunidades para a mão-de-obra desqualificada.