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Publicado em O Estado de S. Paulo, 16/03/2010.

Uma nação bem servida

A média de salários na construção civil subiu 20% em termos reais nos últimos doze meses! É um claro sintoma de falta de mão-de-obra. Químicos, geólogos e tecnólogos que se dedicam ao petróleo estão sendo recrutados na base da pirataria, quando uma empresa "rouba" um profissional de outra. Os engenheiros são demandados como nunca e para trabalhar nas mais diversas funções, inclusive, na de engenheiro. Isso ocorre com várias outras profissões.

Essa falta não é novidade. Toda vez que o PIB cresce 4,5% ao ano, há escassez de pessoal qualificado. Para 2010, estima-se um crescimento de 5,5%. Faltará mão-de-obra qualificada para tocar as grandes obras do PAC, da Copa, das Olimpíadas, do pré-sal e da infra-estrutura, esta, defasada em todos os aspectos. Faltará também pessoal para os serviços em hotéis, restaurantes, tecnologia da informação, transporte aéreo, indústria naval, agro-business e outras áreas.

Em tempos como esse salta aos olhos a necessidade de uma boa preparação da nossa juventude. Nesse campo, o Brasil está na rabeira entre seus concorrentes. É triste.

No meio desse imenso deserto, felizmente, há alguns oasis animadores. Um deles é o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – o Senai.

Estive na semana passada no Rio Centro, onde se realizou a Sexta Olimpíada Nacional do Conhecimento que é, sem dúvida, a maior competição de educação profissional das Américas, incluindo-se aqui os Estados Unidos e o Canadá.

Gosto de assistir as provas. Cheguei cedo. Debrucei-me nas bancadas das oficinas e laboratórios para entender a dificuldade das tarefas e, ao mesmo tempo, observar o tirocínio dos 623 jovens que ali se entregavam a uma disputa acirradíssima com competidores vindos dos melhores Senais do Brasil. Estavam em jogo 50 profissões (caldeiraria, calçados, confecções, construção, eletrônica, ferramentaria, instalações, marcenaria, mecatrônica, mecânica, robótica e outras), cada uma com desafios gigantescos a serem vencidos por quem tem sangue frio e, sobretudo, competência. A prova de mecatrônica, por exemplo, constituiu na montagem e operação de um complexo robô.

No domingo foi a entrega das medalhas - uma festa maravilhosa, das mais sadias que assisti em minha vida. Vi ali a comemoração da inteligência, da disciplina e da ética de trabalho.

Não tenho espaço para fazer uma menção nominal dos novos heróis. A equipe de São Paulo (45 participantes) conquistou 19 medalhas de ouro, oito de prata e oito de bronze. Os mineiros ficaram com seis ouros, oito pratas e 12 bronzes. E os gaúchos, com quatro ouros, seis pratas e quatro bronzes. Mas, todos brilharam.

Os melhores entre os vencedores irão representar o Brasil na Olimpíada Mundial de Educação Profissional (World Skills International) que se realizará na Inglaterra, em 2011. Os jovens brasileiros conquistaram várias medalhas de ouro e prata nos certames realizados no Canadá (2009) e no Japão (2007), quando se consagraram os melhores do mundo nas suas profissões! Isso é motivo de orgulho.

O Diretor daquele certame, Lian Corcoran, presente no Rio de Janeiro, disse ter certeza que a garotada do Brasil vai brilhar novamente na Inglaterra.

Esse é o Senai. Uma instituição que leva a educação profissional como deve ser levada - a sério. Suas escolas são tocadas por professores que sabem fazer e sabem ensinar. E, sobretudo, por mestres que adoram o que fazem e amam os jovens a quem passam não só os conteúdos cognitivos das profissões, mas, também, os valores e as atitudes do mundo do trabalho – a disciplina, a pontualidade, o zelo e o respeito mútuo, etc. - que são os ativos mais valiosos para o progresso individual, das empresas e do país.

Diretores, professores, pesquisadores e funcionários do Senai estão de parabéns. Acima deles, os que participaram das provas e também seus pais. Todos merecem a gratidão de uma nação que precisa ser bem servida na formação de seu povo.