Artigos 

Publicado na Revista CNT, Novembro de 2004

Falta muita educação

As manchetes dos jornais festejaram a melhoria da educação apontada pelo IBGE entre 1993 e 2003. Os brasileiros de 10 anos ou mais que tinham, em média, 5 anos de escola, hoje, têm 6,4 anos (IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2003).

Infelizmente, não dá para comemorar, pois 6,4 anos de escola não são nada na sociedade moderna. Para o grupo dos jovens (entre 20 e 24 anos), chega-se a 8,5 anos de estudo. Continua sendo muito pouco em um mercado de trabalho que se torna cada vez mais exigente.

A mesma pesquisa mostrou que a proporção dos brasileiros que têm 11 anos ou mais de estudo passou de 14,4% em 1993 para 24,9% em 2003. Não estaria aí um dado alentador?

Não. Esse número diz que só um quarto dos brasileiros completam o ensino médio ou chegam ao superior. Isso está muito aquém do que o mercado de trabalho demanda. Em 2003, 98% das vagas oferecidas nas regiões metropolitanas foram preenchidas por pessoas que cursaram 11 anos de escola ou mais. O patamar mínimo exigido pela maioria das empresas é o do ensino médio completo.

Quem satisfaz a essa exigência? Apenas 25% dos brasileiros. Os demais 75% ficam no mundo da exclusão, do desemprego prolongado ou do trabalho precário.

É triste ver que a apontada melhoria "não deu para o gasto". O Brasil continua com uma apavorante sede de educação, com 11% de analfabetos. São cerca de 14,5 milhões de almas que vivem nas trevas. Sem falar na qualidade dos anos de escola freqüentados, pois o analfabetismo funcional chega a 75% da população adulta. São pessoas que não conseguem ler e calcular com desenvoltura. Sem falar ainda dos 61% dos brasileiros que, apesar de alfabetizados, passam o ano inteiro sem ter contato com um livro.

O nosso quadro educacional ainda é um desastre. Isso é ruim para as pessoas e péssimo para o país. Sabe-se que, para quem adquire quatro anos de estudo, sua renda aumenta 8% ao ano; para quem passa de 11 para 15 anos de estudo, o referido aumento é de 21 ao ano! São os retornos individuais.

Mas, para o país, o retorno é muito superior aos individuais, pois, além de aumentar a produtividade, uma boa educação garante melhorias nos quadros da saúde, violência, criminalidade, cidadania e funcionamento de toda a sociedade.

Por isso, não nos iludamos com as manchetes dos jornais que anunciaram os bons ventos da PNAD 2003 na educação. Houve progresso, sem dúvida. Mas foi apenas a senha para trabalharmos com muito mais afinco nesse campo. Um povo deseducado apaga o passado, compromete e presente e condena o futuro.