Publicado no Jornal da Tarde, 16/10/2002.
Estágio e primeiro emprego
Em todos os países do mundo, o desemprego dos mais jovens é sempre mais alto do que o dos mais velhos. Esse fenômeno não é novo, tendo se manifestado mesmo antes das fortes crises porque passaram vários países no início da presente década. Os dados da tabela abaixo indicam que, em muitos casos, o desemprego dos jovens ultrapassa o dobro dos demais trabalhadores.
Taxa de desemprego geral e dos jovens (%)
Países |
Ano |
25 a 65 anos |
20 a 24 anos |
15 a 19 anos |
Argentina |
1998 |
9,2 |
17,8 |
29,4 |
Chile |
1998 |
7,7 |
17,7 |
29,3 |
Colômbia |
1998 |
8,6 |
20,4 |
25,5 |
Costa Rica |
1996 |
4,9 |
18,5 |
19,5 |
México |
1996 |
3,1 |
10,5 |
17,3 |
Paraguai |
1996 |
4,5 |
9,9 |
23 |
Uruguai |
1998 |
4,4 |
14,5 |
29,7 |
Venezuela |
1998 |
6,7 |
14,5 |
19,3 |
BRASIL |
2002* |
7,8 |
14,5 |
20,1 |
Fonte: OIT, 1999; OCED, 1999; IBGE, 2002. (*) Dados das regiões metropolitanas.
A entrada dos rapazes e moças no mercado de trabalho enfrenta dificuldades conhecidas. As empresas alegam falta de experiência, excesso de encargos sociais na contratação e exagero de despesas na descontratação. Para os empregadores, uma escolha errada na hora de recrutar um novo empregado pode custar muito caro.
Dentro desse contexto, o estágio aparece como uma solução engenhosa que atende as necessidades de formação, do lado dos jovens, e de segurança de recrutamento, do lado das empresas. Para quem faz estágio em empresas de boa qualidade, o aprendizado é imenso e, para as empresas, é uma extraordinária oportunidade para contratar bons talentos.
No Brasil, o estágio é regulado pela Lei 6.494/77 (e outras) que estabelecem regras para que estagiário e empresa sejam beneficiados. A escola e empresa entram em uma relação de parceria. Os jovens, durante o estágio, são orientados pela escola. A empresa proporciona as experiências de trabalho. A escola e a empresa avaliam o desempenho do estagiário e da própria parceria.
No Brasil, o estágio deixou de ser uma experiência. Já é uma realidade vitoriosa. Em 2001, o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), por exemplo, colocou mais de 400 mil estagiários nas empresas do Brasil e pagou 1,9 milhão de bolsas de estudo. O Instituto Euvaldo Lodi (IEL), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tem colocado cerca de 50 mil jovens anualmente, com grande ênfase na supervisão por parte de professores especialmente indicados pela escola.
Além dessas, há outras agências de seleção e colocação de estagiários que recebem um número de interessados bastante expressivo, o que demonstra o interesse dos jovens para se inserirem no mercado de trabalho.
As atividades mais demandadas pelos jovens são informática, turismo, educação, saúde, direito, engenharia, comunicação, contabilidade, marketing, administração, relações internacionais e outras dos setores de comércio e serviços.
As avaliações realizadas junto aos estagiários indicam que o nível de satisfação com o estágio realizado fica em torno de 80%. As empresas também gostam dessa parceria. Após o estágio, mais de 60% dos estagiários acabam sendo contratados com vínculo empregatício, superando-se, assim, as resistências ao primeiro emprego.
A intensificação e o aperfeiçoamento dessa sistemática constitui um rico mecanismo para completar a formação escolar dos alunos e para inseri-los no mercado de trabalho.
Como todas as boas leis, essa também é violada por algumas empresas que buscam no estágio uma forma de contratar pessoas inteligentes, pagando menos encargos sociais -, pouco ligando para o aspecto educativo da atividade. Igualmente, algumas escolas se limitam a encaminhar o estagiário para as empresas, deixando de lado o importante papel orientador do professor que é responsável pelo estagiário.
Desvios como esses levam os desavisados a querer acabar com a lei do estágio. Esse não é o remédio indicado. A lei precisa ser preservada e aperfeiçoada, e as fraudes têm de ser evitadas e combatidas mediante ação fiscalizatória dos órgãos do governo e, sobretudo, das escolas, empresas e agências de preparação e colocação de estagiários. O Brasil tem pela frente um grande potencial para realizar com sucesso a travessia entre a escola e o emprego para a maioria dos jovens brasileiros.
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