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Publicado em O Estado de S. Paulo, 24/09/2002.

Educar para exportar

Nestes dias de campanha eleitoral, até os candidatos que tradicionalmente foram contra as exportações, só falam em acelerar as vendas ao exterior. As exportações viraram o carro-chefe do emprego.

Faz parte dos livros textos aconselhar os países em desenvolvimento aumentar o volume de exportações de produtos industriais manufaturados que são intensivos em mão-de-obra (têxteis, calçados, couros, eletrônicos, etc.).

O conselho tem três justificativas. Primeiro, esses países têm mão-de-obra abundante, uma boa parte desempregada ou sub-empregada. Segundo, a incorporação de mais trabalho nesses produtos permitem vendê-los por um bom preço o que gera divisas, melhores salários e investimentos futuros. Terceiro, esses produtos são "bens de salário" cuja demanda tende a crescer continuamente.

Nada, porém, é automático. Os preços desses bens tendem a cair quando países que contam com mão-de-obra mais barata e melhor treinada passam a abarrotar o mercado com tecidos, confecções, calçados, artigos de couro, madeira, mobiliário, etc. Por isso, os manuais de economia recomendam também uma transição gradual dos países exportadores em direção aos produtos que incorporam mão-de-obra mais qualificada e de maior conteúdo tecnológico.

É aqui que entra em cheio a necessidade de uma educação de boa qualidade. Para o Brasil, não basta alavancar os produtos mencionados. É fundamental se preparar para a exportação de bens mais sofisticados, fazendo um "vôo de ganso" - dando arrancadas depois de cada percurso vencido.

Na corrida das exportações, ganha mais quem tem melhor educação. Nos últimos 25 anos, o pêndulo oscilou em favor da Ásia. O gráfico abaixo mostra que, apesar da América Latina ter progredido em matéria de educação secundária, a Ásia progrediu muito mais.

Fonte: "Latin America Economic Policies", Washington: BID, Vol. 15, 2001.

Dados de 2000 estimados pelo autor.

A Organização das Nações Unidas (ONU) indica que a participação dos trabalhadores qualificados nas exportações do mundo aumentou muito mais do que as dos não-qualificados ao longo dos últimos 20 anos (ONU, Trade and Development Report, New York: United Nations, 2002). Mas, devido à forte queda nos preços dos produtos intensivos em mão-de-obra, a Ásia passou a produzir bens de maior valor agregado, contando com trabalhadores qualificados.

No Brasil a força de trabalho tem, em média, 4,5 anos de escola - e má escola - enquanto que a da Coréia do Sul, China, Taiwan, România, Polônia, República Czeca e outros concorrentes tem 10 anos de escola - e boa escola, sem falar nos programas de qualificação profissional que contemplam mais de 40% dos trabalhadores - contra menos de 10% no Brasil. Isso faz muita diferença.

Exportar é uma grande solução para gerar empregos, sem dúvida. Mas, no Brasil, serão necessárias políticas públicas muito bem entrosadas, tendo no centro a melhoria da qualificação da força de trabalho. Isso precisa começar já e ter persistência para colher os frutos em 10 ou 15 anos.