Publicado em O Estado de S. Paulo, 12/03/2002
Educação, flexibilidade e recuperação
As mais valiosas riquezas dos Estados Unidos são a educação de seu povo e a capacidade da sociedade agir rapidamente em casos de dificuldades. Ao se medir o índice de produtividade dos últimos três meses de 2001, os especialistas mais experimentados, ficaram surpresos ao verificar que o país teve um aumento de 5,2%. É um acréscimo fenomenal para uma nação que já possui um altíssimo índice de produtividade.
Muitos chegaram a duvidar do resultado oficial que é pesquisado há décadas pelo Ministério do Trabalho dos Estados Unidos. No início do segundo semestre de 2001, o índice havia sido estimado pelo próprio Ministério em 3,5%. Os mais otimistas, que vinham acompanhando as decisões das empresas no dia-a-dia acreditavam que a produtividade do último trimestre ficaria em torno de 4,5%. Ninguém se atreveu a apostar em mais de 5%.
Um ganho de produtividade dessa natureza têm preciosas conseqüências para a economia e a sociedade. Pagando a mesma remuneração, essa produtividade faz o custo do trabalho cair para as empresas. Com isso os preços dos bens e serviços produzidos também caem e a inflação se mantém estável ou até regride, o que permite continuar com juros baixos. Preços menores, inflação cadente e crédito facilitado estimulam a exportação e o consumo doméstico, o que ativa toda a economia, aumenta os investimentos e gera empregos. No início de 2002, o desemprego nos Estados Unidos começou a declinar.
Há varias razões para a produtividade aumentar no início de uma recuperação econômica. Nessa fase, os empresários procuram ter certeza que a recuperação será duradoura. Em seguida, começam a recontratar trabalhadores cautelosamente. Onde há flexibilidade, eles incorporam pessoas em tempo parcial, por tarefa, com prazo certo. Simultaneamente, aumentam o número de horas extras trabalhadas pelo quadro fixo.
É exatamente isso que os dados mostram para o último trimestre nos Estados Unidos. Ou seja, as empresas produziram mais com o mesmo pessoal e gastaram com mão-de-obra adicional apenas o necessário.
Mas um aumento tão elevado reflete o uso racional de vários outros fatores de produção. Alan Greenspan costuma dizer que o sucesso da economia americana nos anos 90 foi devido à maciça incorporação de novas tecnologias. Faz muito sentido.
A revolução tecnológica permitiu roduzir muito mais com muito menos. Mas isso só foi possível devido à alta qualidade do trabalhador que está por trás das máquinas e dos equipamentos. Em outras palavras, foi o amálgama de tecnologia, educação e flexibilidade de contratação que viabilizou o "milagre" de produção crescente a custos decrescentes. Os grandes investimentos em educação, realizados ao longo de quase dois séculos, permitiram aos Estados Unidos não só criar muita tecnologia e, sobretudo, operar bem com elas.
Apesar disso, os americanos não estão satisfeitos com a qualidade do seu ensino. Em 2001, o Governo Federal lançou um programa duro com vistas a elevar a qualidade das escolas públicas. Estas têm dois anos para pedir (e receber do governo) o que necessitam para oferecer uma educação melhor. Passado esse prazo, o governo distribuirá cartões de compra aos pais ("vouchers") para matricularem seus filhos nas melhores escolas particulares da região, cortando, é claro os recursos destinados às escolas públicas que não conseguiram aprimorar seu trabalho.
O novo reitor da Universidade de Harvard, uma das melhores do mundo, está insatisfeito com a qualidade do seu ensino. Dentre as várias medidas tomadas por Larry Summers, destaco: (1) o maior rigor na avaliação dos alunos de graduação; (2) o aumento do tempo que os professores devem despender com os alunos; (2) a revisão da segurança de emprego dos mestres de Harvard; (4) a reforma dos currículos, incorporando o estudo do mundo e não apenas dos Estados Unidos.
É ingênuo querer comparar a condição dos Estados Unidos com a do Brasil. Mas temos de reconhecer nossas falhas. Entre nós, "não é dinheiro que falta; falta saber gastar". Com esse título a reportagem do Estadão de 10/03/2002, mostrou que o Brasil gasta 5,1% do PIB em educação, enquanto que os Estados Unidos gastam 5,4%, a Alemanha 4,8%, o Japão e o Chile, 3,6% e a Argentina 3,5% países que têm uma educação muito superior à do Brasil.
Essa é a urgente reforma da educação brasileira: melhorar o foco. Com os mesmos orçamentos, as nossas escolas têm de aperfeiçoar os professores, usar melhor seu tempo, ampliar as oportunidades e focalizar o estudo no que é importante para a vida moderna. Isso será crucial para o progresso pessoal e para a produtividade da economia.
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