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Publicado em O Estado de S. Paulo, 19/12/00

Educação, exportações e emprego

Num mundo globalizado e altamente tecnificado, tem pouco futuro o país que importa conhecimento e exporta ignorância.

Talvez a afirmativa seja forte demais para as nações que se esforçam para exportar bens e serviços mais sofisticados e que contenham maior dose de tecnologia e educação. Mas a frase vale para acentuar uma realidade: passou o tempo quando se tirava vantagem da simples exploração da natureza e da venda de bens rudimentares.

Os Estados Unidos aumentam cada vez mais o que exportam de conhecimentos. Cresce aceleradamente a venda de serviços, realizados dentro e fora do país. Esse é o caso, por exemplo, de empresas de contabilidade que administram folhas de pagamento de firmas do exterior e de centros de informática que controlam reservas de companhias aéreas em todo o mundo. Hoje, a venda de serviços está em US$ 250 bilhões por ano, devendo atingir US$ 650 bilhões em 2010 (Joel Millman, "Serviço é o caminho dos EUA para obter superávit comercial", O Estado de S. Paulo, 05/12/2000.)

A pauta de exportação do Brasil vem evoluindo na direção da sofisticação, com o aumento das vendas de material de transporte, eletro-eletrônicos, máquinas e equipamentos, produtos químicos, etc. Há sinais positivos também nos setores de ponta como, por exemplo, a exploração de petróleo submarino, construção de aviões, variedades de plantas, codificação de genômas e outros.

Mas ao exportarmos minérios, madeiras, fumo, café, açúcar, soja e carne in natura, vendemos pouco conhecimento. É claro que por trás dessas distorções há uma série de ineficiências da infra-estrutura, do sistema tributário, do custo Brasil e outros. Todavia, não podemos tapar o sol com a peneira. Se, numa hipótese heróica, esses obstáculos fossem removidos, estaríamos com a mesma força de trabalho que, na média, tem apenas 5 anos de escola.

É difícil produzir sofisticação com esse nível de educação. Na União Européia, a maior parte dos estudantes fica 16 anos na escola. No Brasil, apenas 6,2 anos. Só 19% dos brasileiros que começam a escola, completam o segundo grau. Na Inglaterra são 79%, e o país quer chegar a 100%. Nos Estados Unidos, 80% dos estudantes entre 18 e 24 anos, cursam universidades. Entre nós, são menos de 8%. Ademais, aquele País tem umas 20 universidades de elite em ciência e tecnologia e que influenciam o mundo inteiro.

São diferenças alarmantes e que impõem sérios constrangimentos em um país como o Brasil que precisa triplicar a exportação de bens e serviços dinâmicos, sem desprezar, é claro, as nossas vantagens comparativas no campo da agropecuária, frutas, pescado e minerais.

No Brasil, os setores que tiveram sucesso na exportação de itens dinâmicos basearam-se na alta qualidade de sua mão-de-obra. E isso foi conseguido através de uma íntima relação das empresas com universidades, institutos de pesquisa e bons centros de formação profissional.

No setor industrial, por exemplo, o SENAI teve um papel estratégico na implantação de escolas especializadas dentro das montadoras de veículos, que hoje lideram as exportações de manufaturados. As novas fábricas de automóveis do interior de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul, igualmente, só foram viabilizadas, devido à participação direta daquela entidade. A retomada das exportações de calçados, eletrodomésticos, máquinas, ferramentas, mármores e granitos está intimamente ligada aos trabalhadores que apreenderam a usar as novas tecnologias.

O governo fez um esforço louvável ao universalizar o ensino de primeiro e segundo graus. Mas, ao lado disso - ou devido a isso - a qualidade caiu, conforme mostram as pesquisas oficiais (MEC, Sistema de Avaliação da Educação Básica, Brasília, 2.000). É triste ver isso acontecer na hora em que o mundo requer mais e mais bom senso, lógica de raciocínio, versatilidade, conhecimentos gerais e específicos, domínio das tecnologias, capacidade para resolver problemas e, sobretudo, uma ética do trabalho que valoriza o zelo, o carinho e o amor pela tarefa.

É verdade que o processo educacional é lento. Mas o governo precisa liderar um movimento sério e que some esforços em favor da melhoria da qualidade da educação. Governantes, empresários, proprietários de escolas e cidadãos em geral têm uma larga responsabilidade nessa tarefa. O que está em jogo é a necessidade de salvar o emprego das novas gerações.