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Publicado em O Jornal da Tarde, 16/06/1999

Educação e emprego

é bem provável que você conheça várias pessoas bem preparadas e que estejam amargando um doloroso período de desemprego. A imprensa brasileira tem noticiado que a educação deixou de ser uma vacina contra o desemprego.

O que dizem as pesquisas sobre esse assunto? Educação ajuda ou atrapalha quando o emprego encolhe?

A educação sozinha não gera emprego. Mas ela ajuda a manter as pessoas empregadas assim como facilita a mudança de emprego.

Na grande massa de desempregados da Região da Grande São Paulo, onde o desemprego ultrapassa a casa dos 20% pela metodologia do DIEESE-SEADE que leva em conta também a informalidade, há apenas 3,5% de pessoas que cursaram uma faculdade.

Nessa mesma massa, há quase 50% de trabalhadores que não completaram o primeiro grau. Não há dúvida: o desemprego atinge muito mais em cheio os menos educados. E, nesses casos, o tempo para se conseguir um novo emprego é extremamente longo – quase um ano, em média.

Dois fatores respondem por essa desigualdade.

1. A recessão e o excesso de oferta de mão-de-obra dão às empresas a oportunidade de selecionar pessoas com mais qualificação no mercado de trabalho. Há casos extremos como, por exemplo, a exigência do primeiro grau completo para os varredores de rua.

2. Um segundo fator importante diz respeito às mudanças nas tecnologia e métodos de produção. Até mesmo nos setores que tradicionalmente sempre empregaram grandes contingentes de mão-de-obra pouco qualificada, como é o caso da construção civil e agricultura – nota-se uma elevação das exigências educacionais por força daquelas mudanças.

Parece estranho que as grandes empresas de construção, por exemplo, exijam segundo grau e conhecimentos de informática de seus operários. Ocorre que a comunicação entre os canteiros de obra e os escritórios, nos dias atuais, é feita por e-mail. As ordens de serviço dos engenheiros são deixadas para os operários em disquetes e formulários de computadores. Os sistemas de células de produção, que terminaram com as chefias intermediárias, "plugaram" no mesmo sistema de informática, operários e controladores de obras – tudo feito à distância, com vistas a economizar mão-de-obra, transporte, energia e vários outros itens importantes na composição do custo das construções.

Quem vai aplicar um herbicida na agricultura tem de saber ler a bula do produto e ser capaz de fazer a diluição adequada ao tipo de praga a ser combatida, à extensão de área e à natureza do solo – sem falar no conhecimento do equipamento que vai ser utilizado.

Quem lida com avicultura sabe que um aviário funciona com a precisão de uma UTI, o que requer grande competência para vacinar as aves, alimentá-las com regularidade e para manter as condições de temperatura, umidade e pressão adequadas no ambiente.

Compreende-se, assim, porque o mercado de trabalho está se tornando tão exigente.

O fato é que as empresas estão se transformando rapidamente. As atividades se entrelaçam cada vez mais. Um trabalhador precisa executar várias tarefas. A polivalência passou a ser um requisito essencial. Para as empresas, o que interessa é saber se os trabalhadores podem resolver os seus problemas.

Tudo isso passou a exigir mais e melhor educação geral e profissional. Esse quadro veio para ficar. Nunca a educação foi tão crucial para as pessoas conseguirem um emprego e, sobretudo, permanecerem empregadas.